A Velha Árvore

A Velha Árvore

Por Débora Peixoto

Depois de uma longa viagem a sua terra, lá estava Betina, imersa numa nostalgia silenciosa...absorta em lembranças ao rítmo do balanço das folhas da velha árvore...que parecia dizer: bem-vinda de volta ao lar, querida!

Árvore que inúmeras vezes a acolhera em sombras, frescor, cumplicidade...e solidão. Que testemunhara tantas alegrias e tristezas em suas doces visitas. Talvez a única amiga que Betina encontrara de verdade. Olha a velha amiga...ainda tão forte e resistente ao tempo... lindamente renovada.

Betina olha para cima e vê pequenos espaços ensolarados em sua folhagem deixando-a mais linda e iluminada...dá pequenas voltas, encantada com a beleza intacta de sua querida companheira.

Com o coração enternecido por lembranças de sua infância. De como se sentia plena, como se pudesse chegar até o céu naquele vai e vem do balanço de todos os dias após voltar da escola.

De como se escondia em seus galhos quando resolvia fugir de tudo...apenas para estar ali...

Das subidas rápidas e imbatíveis até o topo...rindo sempre daqueles que não tinham tanta eficiência em tal proeza. Fruto de uma grande intimidade e companheirismo. Elas se entendiam...se conheciam...se desfrutavam.

Quanta saudade! Isso era percebido em ambas. Em resposta a isso...o balançar das folhas pelo vento suave, que solidário naquele momento sublime, contribuiu para expressão de alegria da árvore em rever sua mais fiel visitante...inebriando o coração de Betina.

Observa as marcas entalhadas em seu tronco. Procura... e lá está o seu nome...sorri timidamente de olhos fechados... passando seus dedos e contornando aquele coração... como se relesse em tão poucas formas tudo o que havia acontecido naquele dia...uma confidência do primeiro amor...seu único amor de toda a vida. Por um momento sente o vento trazendo todas as palavras confessadas ali...uma a uma. Continuou observando os entalhos e então vê uma pequena frase escrita ali.

“Quando vier, saberá que todos os dias eu vim até aqui à procura de um pedaço de você.” Frase seguida de vários corações com o nome dos dois.

Betina não podia mais se conter diante do turbilhão de sentimentos que a envolvia. Olha para toda a extensão da árvore amiga...cheia de segredos, como se a única pergunta que gostaria de fazer fosse: o que você sabe sobre isso...?

Segue-se apenas um silêncio doloroso e inexplicável. A amiga mais uma vez a acolhe. Betina a abraça em lágrimas...sem nada dizer. Não precisava dizer nada...ela entendia tudo perfeitamente. Fez isso inúmeras vezes.

Após horas de lágrimas silenciosas, ela sente uma sombra atrás de si que a faz olhar subitamente.

“Não pode ser!” - pensou.

Era ele...

Anos depois...

- Vim...porque eu sabia que o único lugar onde eu pudesse ouvir você me chamar seria esse - disse ele.

Horas de conversas...lembranças...sentimentos renovados e intensos...risos constantes. Tudo tão inteiro quanto antes...tão único quanto antes. Eles se amavam e isso não mudara com o tempo, embora suas vidas tomassem rumos diferentes. Mas ali era o momento...pois ali sempre fora o momento...deles.

Com um abraço profundo, longo e intenso, preparavam-se para prosseguir em nova etapa de suas vidas...juntos...sem saberem ao menos como ou por quê. Sabiam apenas que precisavam estar ali na hora exata para uma intervenção sábia do destino.

Mas, ao sair, Betina dá meia-volta e olha para a árvore, tocando-a...emocionada.

- Obrigada! Por sua fidelidade em guardar tudo, por me ouvir...por testemunhar tudo em mim de forma única. Voltarei em breve para mais uma visita.

Sua velha amiga...respondendo em balanços e sons:

- Estarei aqui...te esperando até não mais existir... a única companheira que me viu além de apenas uma árvore...

Debby peixoto
Enviado por Debby peixoto em 30/01/2013
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