Telefone

Não estar apaixonado,

é o meu álibi para o poema;

pois, meu coração molhado

fala mais do que queima.

Por isso, não é ruim

nossas vozes estarem distantes,

se tua palavra (em mim)

ecoa como em mil alto-falantes.

E, não conhecer tua textura...

as nuances de cor nos cabelos;

o horizonte após a cintura...

não toca-los...não te-los...

não me faz um sedento febril,

nem menos próximo do desejo;

apenas navego por um rio

cujas as margens não vejo.

Você é um mistério sereno...

um vulcão de tranquilidade...

o antídoto mesclado ao veneno...

a ilusão fundida à verdade.

Quero, mas não te procuro

pois, este querer desconhecido,

talvez, ainda não esteja maduro

o suficiente para ser mordido.

Contento-me, então, com a tua voz...

com a vibração que, dela, exala...

e com o telefone entre nós,

pela bondade de transporta-la...

porque (mais do que se é falado)

o que, profundamente, me fascina

é o perfume doce e delicado

do silêncio, quando a ligação termina.

Sempre sou eu quem te ligo;

o contrário jamais acontece...

é que, as vezes, me esqueço do perigo

mas você nunca se esquece.

Maio - 2002

Torre Três (R P)
Enviado por Torre Três (R P) em 27/12/2012
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