Telefone
Não estar apaixonado,
é o meu álibi para o poema;
pois, meu coração molhado
fala mais do que queima.
Por isso, não é ruim
nossas vozes estarem distantes,
se tua palavra (em mim)
ecoa como em mil alto-falantes.
E, não conhecer tua textura...
as nuances de cor nos cabelos;
o horizonte após a cintura...
não toca-los...não te-los...
não me faz um sedento febril,
nem menos próximo do desejo;
apenas navego por um rio
cujas as margens não vejo.
Você é um mistério sereno...
um vulcão de tranquilidade...
o antídoto mesclado ao veneno...
a ilusão fundida à verdade.
Quero, mas não te procuro
pois, este querer desconhecido,
talvez, ainda não esteja maduro
o suficiente para ser mordido.
Contento-me, então, com a tua voz...
com a vibração que, dela, exala...
e com o telefone entre nós,
pela bondade de transporta-la...
porque (mais do que se é falado)
o que, profundamente, me fascina
é o perfume doce e delicado
do silêncio, quando a ligação termina.
Sempre sou eu quem te ligo;
o contrário jamais acontece...
é que, as vezes, me esqueço do perigo
mas você nunca se esquece.
Maio - 2002