O VARAL E O VENTO
O VARAL E O VENTO
Ironi Lírio
Quero colocar os meus versos no varal
E esperar pelo vento
Para vê-lo balançar as folhas
Curioso com o que tem dentro
Vou fazer certo mistério
E o papel eu vou dobrar
O vento, impaciente, terá que abri-lo
Se quiser ter o que contar
Quero me sentar despreocupadamente
Ouvindo o vento reclamar do trabalho que lhe dei
Vou me divertir com a força que fará
No papel que eu dobrei
Vou escrever meus versos com tinta cega
E usar penas de passarinho
Para que se desprendam das folhas
E com o balanço do vento
Saiam pelo mundo sem rumo, procurando por algum ninho Quero colocar meus desejos, meus medos
E toda a esperança que achar
Posso colocar os seus também
É só você me acompanhar
O vento, bisbilhoteiro,
Fará jus ao seu compromisso de nunca ficar calado
E com o balanço das folhas
Seguirá contando os meus segredos para todo mundo
Como um jovem apaixonado
Com o balanço do varal
O vento irá mostrar o meu avesso
Jogando as palavras no ar
Fazendo do fim o começo
Mas isso não me incomoda,
Pois todo mundo poderá escutar
Não me preocupo com as rimas
Ou com o que alguém possa pensar
Não quero que tudo saia perfeito
Quero apenas ouvi-lo contar
Quero ouvidos dispostos, bocas que cantem,
Olhos que brilhem e pernas que queiram dançar
Quero pensamentos que voem
Até onde a tristeza não possa alcançar
E quando menos esperar
Também estarei dançando
Mas se alguém interessar
Sairei como as letras vivas
Pelo mundo perguntando:
- Quer dançar comigo?