Sonhos digitais…
Decidimos sermos práticos
Sermos imediatos
Sermos tecnológicos
Inventando uma máquina que grave os nossos sonhos
E que ao mesmo tempo
No tempo real
Os ligue à grande rede
Para que todos possam partilhar o nosso sonho digital…
Abandonámos por isso o egoísmo
Essa coisa velha
De sonharmos a sós
Essa coisa antiga
Que nos faz perder o que vemos
Mal tal acontece
E por isso decidimos dar ao mundo
Mais esta vertente da nossa individualidade
Porque já demos todo o resto
Com a garantia
Que tal gravação
Fará com que os sonhos sejam guardados
E por isso durarão uma eternidade…
Passámos assim a ser diversos entes
Bem na essência da nossa identidade
Quem os supervisiona
Vendo se os seus conteúdos são correctos
E quem os recebe
Estranhos a maior parte deles
Que sem o sabermos
Com tal gesto social
Esse gesto
A nossa identidade compromete…
Mas nestes tempos de modernidade
Nós nada somos
Se não partilharmos tudo
Sendo um dano colateral menor
A censura do que sonhamos
A manipulação do que desejamos
Embora
Nas alturas em que desligo a máquina
Em segredo
Deseje e sonhe
De uma forma bem tradicional
Desejando que falte a energia
Para voltar plenamente aos meus ideais
Onde o que sonhava era apenas meu
E não uma pequena parte
Da grande e jubilosa civilização
A que um técnico zeloso
Etiquetou e chamou de
Sonhos digitais…