Sonhos digitais…

Decidimos sermos práticos

Sermos imediatos

Sermos tecnológicos

Inventando uma máquina que grave os nossos sonhos

E que ao mesmo tempo

No tempo real

Os ligue à grande rede

Para que todos possam partilhar o nosso sonho digital…

Abandonámos por isso o egoísmo

Essa coisa velha

De sonharmos a sós

Essa coisa antiga

Que nos faz perder o que vemos

Mal tal acontece

E por isso decidimos dar ao mundo

Mais esta vertente da nossa individualidade

Porque já demos todo o resto

Com a garantia

Que tal gravação

Fará com que os sonhos sejam guardados

E por isso durarão uma eternidade…

Passámos assim a ser diversos entes

Bem na essência da nossa identidade

Quem os supervisiona

Vendo se os seus conteúdos são correctos

E quem os recebe

Estranhos a maior parte deles

Que sem o sabermos

Com tal gesto social

Esse gesto

A nossa identidade compromete…

Mas nestes tempos de modernidade

Nós nada somos

Se não partilharmos tudo

Sendo um dano colateral menor

A censura do que sonhamos

A manipulação do que desejamos

Embora

Nas alturas em que desligo a máquina

Em segredo

Deseje e sonhe

De uma forma bem tradicional

Desejando que falte a energia

Para voltar plenamente aos meus ideais

Onde o que sonhava era apenas meu

E não uma pequena parte

Da grande e jubilosa civilização

A que um técnico zeloso

Etiquetou e chamou de

Sonhos digitais…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 11/11/2012
Código do texto: T3980033
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