Dissertações num passeio…
Olho da rua a tua luz acesa
E não sei se subo
E muito menos se vou ficar
Se gosto de ti
Ao ponto de te convidar
Para desceres
E para fazermos da rua
O nosso ponto de começo
O nosso ponto de exploração
Onde um anónimo passeio
Nos levará
Onde nos mandarem os afectos
Comandados pela nossa imaginação
Penso mais um bocado
Adicionado esse pensamento
A uma lista interminável deles
E acendo mais um cigarro
Entrando na pele de um jovem que faz tal pela primeira vez
Mentindo
Para me iludir
Porque não me atrevo a contabilizar momentos iguais a este
Preferindo imaginar
Que esta é a única via que possuo
E assim
Sem nenhuma outra
Por esta vou seguindo…
E assim não ligo às pessoas e ao tempo que passam por mim
Embora a tal não seja insensível
Às gentes disfarço que não estou ali à espera de nada
E ao tempo
Não mostro que tenho prazer nisto
Fingindo que isto para mim é uma enorme maçada…
Porque podia abreviar a espera
Socorrendo-me dos imensos meios de comunicação
Que hoje
Estão demasiado à nossa disposição
Mas que em vez de nos aproximarem de facto
Fazem tal apenas à distância
E por isso quando se corta com alguém
É com a enorme facilidade com que se liga ou desliga um mero botão
Mas insisto
Teimo na tua presença
Ou pelo menos na imagem clássica
De tu vires à tua janela
Porque te cansaste da minha ausência
E sabes que eu estou à tua espera
À espera que sorrias quando me vires
E que sem to dizer
Desças
Até mim
Deixes as janelas virtuais
Que só de forma sarcástica são chamadas de “comunicação”
Desças
Fazendo como os antigos
E venhas passear
Comigo
Ficando depois na nossa memória comum
Que tudo começou de uma forma convencional
Se calhar para quem nos visse
Algo infantil
Seja
Mas que nos deu uma enorme
E intransmissível satisfação
Porque olhaste para mim de cima
E de cima desceste
Para que eu te pudesse dar
E para que pudesses sentir
O calor da minha mão…