No dia em que o mundo tiver que acabar…

Não vamos lutar

Em vão

Para procurar uma inútil salvação

Porque se ele chegar ao fim

Somos iguais a toda a gente

E todos juntos passaremos a fazer parte

Do pó universal

Que se perde na sua imensidão…

Encararemos esse tempo com pena

Por não vivermos mais

Mas ao mesmo tempo

Com uma enorme satisfação

Porque cumprimos o nosso papel nele

Sabendo que por isso

Não precisaremos de qualquer tipo de salvação…

Teremos rido

Teremos chorado

Teremos feito o bem

Mas também teremos alguém magoado

Teremos ficado indiferentes numa manifestação

Mas emocionados ao ver uma gota de chuva cair

Porque caiu de uma forma diferente

E nós fomos diferentes

Fomos iguais

Fomos integrados

Fomos alienados

Teremos ficado em silêncio naquele concerto

E no dia seguinte

No meio de uma multidão

Porque nos lembrámos da música que nos tocou mais

Começámos fora do seu contexto

A entoar aquela canção

Porque fomos de extremos

Fomos sintéticos

Fomos conclusivos

Ao mesmo tempo

Que também fomos vagos

Fomos demasiado expansivos

Tentando aproveitar

Os diferentes ângulos

De uma existência

Querendo viver de tudo

De tudo captar a sua essência

Mas sobretudo

Fomos humanos

Só ferindo

Em ultimo recurso

Só hostilizando

Para que os monstros não nos pudessem devorar

Mas em todas as cambiantes dessa vida

Em tempo algum ficámos amargos

Em tempo algum deixámos de amar

Por isso estaremos em paz

Completos

Mergulhados numa quase transcendente tranquilidade

No dia em que o mundo tiver que acabar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 28/10/2012
Código do texto: T3956127
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