No dia em que o mundo tiver que acabar…
Não vamos lutar
Em vão
Para procurar uma inútil salvação
Porque se ele chegar ao fim
Somos iguais a toda a gente
E todos juntos passaremos a fazer parte
Do pó universal
Que se perde na sua imensidão…
Encararemos esse tempo com pena
Por não vivermos mais
Mas ao mesmo tempo
Com uma enorme satisfação
Porque cumprimos o nosso papel nele
Sabendo que por isso
Não precisaremos de qualquer tipo de salvação…
Teremos rido
Teremos chorado
Teremos feito o bem
Mas também teremos alguém magoado
Teremos ficado indiferentes numa manifestação
Mas emocionados ao ver uma gota de chuva cair
Porque caiu de uma forma diferente
E nós fomos diferentes
Fomos iguais
Fomos integrados
Fomos alienados
Teremos ficado em silêncio naquele concerto
E no dia seguinte
No meio de uma multidão
Porque nos lembrámos da música que nos tocou mais
Começámos fora do seu contexto
A entoar aquela canção
Porque fomos de extremos
Fomos sintéticos
Fomos conclusivos
Ao mesmo tempo
Que também fomos vagos
Fomos demasiado expansivos
Tentando aproveitar
Os diferentes ângulos
De uma existência
Querendo viver de tudo
De tudo captar a sua essência
Mas sobretudo
Fomos humanos
Só ferindo
Em ultimo recurso
Só hostilizando
Para que os monstros não nos pudessem devorar
Mas em todas as cambiantes dessa vida
Em tempo algum ficámos amargos
Em tempo algum deixámos de amar
Por isso estaremos em paz
Completos
Mergulhados numa quase transcendente tranquilidade
No dia em que o mundo tiver que acabar…