Pediram-me…

(parte da verdade que se passa em Portugal mas que não se sabe...incomoda demasiado que se saiba...)

Em nome do Estado

Em nome dos princípios da minha profissão

Para esquecer o homem que era

Fora do trabalho

E para alvejar uma multidão…

Em nome da ordem

Que não era a minha

A nova ordem

Que substituiu a velha

Uma ordem

Que tudo tinha deturpado

Mas confiavam em homens como eu

Que para não ficar desempregado

Tudo manteria

Dentro da ordem

Tudo manteria controlado…

Que não deixasse riscar

Os caros carros

Nos quais eles se deslocavam

Mas eram as pessoas

E não eles

Que os estavam a pagar…

Que ficasse indiferente aos olhares de sofrimento

Que olhasse sim

Para que quem o causou

Não sofresse na pele

Os ventos de tempestade que eles estavam a semear

E apesar de o querer

Estava impedido de eu próprio poder falar…

Pediram-me então

Para que alvejasse a multidão

Que não queria nada

Não queria riqueza

Queria apenas o luxo

De poder comer algo mais do que um pão

Porque trabalhavam para mais

Tinham na constituição acesso a mais

Mas o fruto do seu trabalho

Era para sustentar

O luxo

De quem nos devia governar

Não deixando sequer trocos

Para o quase essencial

Poder comprar

E mesmo assim me pediram para alvejar a multidão

Eu fartei-me

E por fim falei

E respondi

Com um rotundo “não”

Despindo a farda

Deixando a arma

Juntando-me aos agredidos

E com eles

Tentar

Ou meramente sonhar

Em refazer a ordem perdida

Nem que para tal

Tivéssemos que fazer uma revolução…

Pediram-me, mas eu não obedeci…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/09/2012
Reeditado em 22/09/2012
Código do texto: T3894694
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