Pediram-me…
(parte da verdade que se passa em Portugal mas que não se sabe...incomoda demasiado que se saiba...)
Em nome do Estado
Em nome dos princípios da minha profissão
Para esquecer o homem que era
Fora do trabalho
E para alvejar uma multidão…
Em nome da ordem
Que não era a minha
A nova ordem
Que substituiu a velha
Uma ordem
Que tudo tinha deturpado
Mas confiavam em homens como eu
Que para não ficar desempregado
Tudo manteria
Dentro da ordem
Tudo manteria controlado…
Que não deixasse riscar
Os caros carros
Nos quais eles se deslocavam
Mas eram as pessoas
E não eles
Que os estavam a pagar…
Que ficasse indiferente aos olhares de sofrimento
Que olhasse sim
Para que quem o causou
Não sofresse na pele
Os ventos de tempestade que eles estavam a semear
E apesar de o querer
Estava impedido de eu próprio poder falar…
Pediram-me então
Para que alvejasse a multidão
Que não queria nada
Não queria riqueza
Queria apenas o luxo
De poder comer algo mais do que um pão
Porque trabalhavam para mais
Tinham na constituição acesso a mais
Mas o fruto do seu trabalho
Era para sustentar
O luxo
De quem nos devia governar
Não deixando sequer trocos
Para o quase essencial
Poder comprar
E mesmo assim me pediram para alvejar a multidão
Eu fartei-me
E por fim falei
E respondi
Com um rotundo “não”
Despindo a farda
Deixando a arma
Juntando-me aos agredidos
E com eles
Tentar
Ou meramente sonhar
Em refazer a ordem perdida
Nem que para tal
Tivéssemos que fazer uma revolução…
Pediram-me, mas eu não obedeci…