O tempo que passa…
Entre o por do sol e o seu nascer
É o tempo que leva algo
A vir ao mundo e a morrer…
Um tempo de mensuração subjectiva
Porque pode parecer a alguém um instante
O tempo que leva a cair uma lágrima
Mas uma eternidade a desaparecer aquilo que ela deixa cavado em nós:
Uma ferida…
Ou então a lágrima parece nunca mais se evaporar
Mas quando ela parte
Nada fica como seu testemunho
Nada fica em seu lugar…
Porque o lugar em nós
Que algo deixa
É que define e mede esse tempo
Porque o que não vale a pena
Dura menos do que segundos
Ficando na eternidade de mais um esquecimento…
E para além da ciência que procura o tempo definir
Para além da filosofia que o quer interpretar
Para além da literatura que o ambiciona embelezar
Está o homem
O criador deste conceito
No qual se viciou
Uma ideia que viu ser maior do que o criador
Que o viu subjugar
E por isso tentou inventar uma série de instrumentos onde a pudesse aprisionar
De uma forma inútil
De uma forma vã
Porque a metáfora da lágrima a cair
Resume o que ele é para nós
Resume o seu significado
Captou a sua essência
Porque sem pessoas para o sentir
Esse tempo perde toda e qualquer valência
Deixando então a natureza vingar
E nos mostrar que quase tudo com que preenchemos o tempo
Porventura será insignificante
Tal como poderão ser insignificantes
Todas as reflexões desta espécie de carta
Dado ter tentado resumir imensas coisas
Tentei de facto pará-lo
Mas neste lapso dele próprio em mim
A verdade interior e exterior não deixa de existir:
Tudo continua a decorrer enquanto
O tempo que passa…