Não nos disseram…
Que o tempo que vivíamos a correr
(não por pressa, mas pelo gosto genuíno de tudo fazermos bem depressa sem pararmos…)
Era um tempo marcado
Um tempo que iria acabar
Nunca nos disseram que com outro tempo
Esse prazer estaria condenado
E quem o fizesse
Estaria completamente descoordenado…
Que a velocidade da luz para os humanos é uma ilusão
E sendo que só andando a tal velocidade
Se vive mais tempo do que o resto da humanidade
Julgámos ir mais depressa do que o resto do mundo
E de repente envelhecemos
E tudo em que acreditávamos deixou de fazer sentido
No dia em que tivemos que abrandar
E alguns de nós até mesmo parar
Percebendo nessa altura
Que tínhamos há muito perdido o estatuto de anjos
De jovens promessas
Que passámos a ser apenas
Lágrimas
E imensas tristezas…
A quem se viu desiludido
Aos olhos de nós
Aos olhos de quem via o que nunca fôramos
Aos olhos do tempo humano
Que precisa de criar novas expectativas
Nos seus jovens
Para depois os descartar
Depois de certa forma os devorar
Devorar o que deles esperava
Deixando-os à sua sorte
E com aquilo que eles sonharam…
Não nos disseram
Mas por mim deixei-me de importar com tal
Com este comércio de sensações
De emoções
Onde se brinca
À caducidade imortal
E não me importo
Porque se me tivessem dito
Nada teria piada
Tal teria perdido a sua graça
Que se mantém
Serena
Fora das luzes
Das atenções
E de demasiadas expectativas
E por isso a alegria
Não foi marcada pela ferida
De tudo ter sido uma espécie de ilusão
Porque não o foi
Nunca o será
Porque continuo a sorrir
Como sempre
Como sempre sorrirei
Porque depois de me aperceber do que me deviam ter dito
Vivo na realidade
Longe de qualquer ilusão
Sabendo que o que vivo é real
Que bem dentro de nós nunca será inverno
Será sempre Verão…