Não nos disseram…

Que o tempo que vivíamos a correr

(não por pressa, mas pelo gosto genuíno de tudo fazermos bem depressa sem pararmos…)

Era um tempo marcado

Um tempo que iria acabar

Nunca nos disseram que com outro tempo

Esse prazer estaria condenado

E quem o fizesse

Estaria completamente descoordenado…

Que a velocidade da luz para os humanos é uma ilusão

E sendo que só andando a tal velocidade

Se vive mais tempo do que o resto da humanidade

Julgámos ir mais depressa do que o resto do mundo

E de repente envelhecemos

E tudo em que acreditávamos deixou de fazer sentido

No dia em que tivemos que abrandar

E alguns de nós até mesmo parar

Percebendo nessa altura

Que tínhamos há muito perdido o estatuto de anjos

De jovens promessas

Que passámos a ser apenas

Lágrimas

E imensas tristezas…

A quem se viu desiludido

Aos olhos de nós

Aos olhos de quem via o que nunca fôramos

Aos olhos do tempo humano

Que precisa de criar novas expectativas

Nos seus jovens

Para depois os descartar

Depois de certa forma os devorar

Devorar o que deles esperava

Deixando-os à sua sorte

E com aquilo que eles sonharam…

Não nos disseram

Mas por mim deixei-me de importar com tal

Com este comércio de sensações

De emoções

Onde se brinca

À caducidade imortal

E não me importo

Porque se me tivessem dito

Nada teria piada

Tal teria perdido a sua graça

Que se mantém

Serena

Fora das luzes

Das atenções

E de demasiadas expectativas

E por isso a alegria

Não foi marcada pela ferida

De tudo ter sido uma espécie de ilusão

Porque não o foi

Nunca o será

Porque continuo a sorrir

Como sempre

Como sempre sorrirei

Porque depois de me aperceber do que me deviam ter dito

Vivo na realidade

Longe de qualquer ilusão

Sabendo que o que vivo é real

Que bem dentro de nós nunca será inverno

Será sempre Verão…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 24/08/2012
Código do texto: T3847255
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