Passei a ter medo…
Quando os teus olhos me contaste
De forma inexpressiva, mas nos quais li uma vontade reprimida de chorar
Que por vezes certas terras
Nunca são tocadas pelo seu vizinho mar…
Quando me revelaste que os astros que vemos acima de nós
Ou até mesmo cometas, asteróides
São ecos do passado
Que jamais irá nos tocar
E foi então que me apercebi
Que apesar do cosmos fervilhar de vida
Estaremos sempre destinados a estarmos sós…
Quando me disseste que há várias formas de tradução para as imensas línguas da Terra
Que toda a gente pode falar, toda a gente pode comunicar
Mas que nunca farão tal plenamente
Porque o orgulho de um certo isolamento
É parte intrínseca da nossa forma humana de estar…
Que as teorias dos físicos
Na realidade estão todas erradas
Não possuem uma aplicação humana
Universal talvez
Mas humana definitivamente não
Que o tempo passa
E não há forma de o agarrar
E de muito menos o prender
Apercebendo-me nessa altura
Que passei a maior parte da vida a correr
Julgando que podia vencer
E até mesmo ultrapassar o tempo
Até que me disseste
Que somos escravos dele
Que com a importância que damos ao nada que ocupa a maior parte dos nossos dias
Estamos esse tempo a esgotar
E num instante vamos reparar o quanto depressa envelhecemos
O quanto rapidamente
Se esgotou o tempo
Enquanto sentimos que há tanto ainda por fazer
Por nos termos perdido no que não valia a pena
Julgando que aquilo que gostávamos
Lá estaria à nossa espera
Mas tudo envelhece
Tudo se altera
E por isso quando voltamos ao que gostamos
Reparamos que tal mudou
E assim eu aprendi a ter medo de te deixar
Tenho medo que quando voltar
Não te vá reconhecer
Tenho medo
Que a própria memória se possa desvanecer…