Passei a ter medo…

Quando os teus olhos me contaste

De forma inexpressiva, mas nos quais li uma vontade reprimida de chorar

Que por vezes certas terras

Nunca são tocadas pelo seu vizinho mar…

Quando me revelaste que os astros que vemos acima de nós

Ou até mesmo cometas, asteróides

São ecos do passado

Que jamais irá nos tocar

E foi então que me apercebi

Que apesar do cosmos fervilhar de vida

Estaremos sempre destinados a estarmos sós…

Quando me disseste que há várias formas de tradução para as imensas línguas da Terra

Que toda a gente pode falar, toda a gente pode comunicar

Mas que nunca farão tal plenamente

Porque o orgulho de um certo isolamento

É parte intrínseca da nossa forma humana de estar…

Que as teorias dos físicos

Na realidade estão todas erradas

Não possuem uma aplicação humana

Universal talvez

Mas humana definitivamente não

Que o tempo passa

E não há forma de o agarrar

E de muito menos o prender

Apercebendo-me nessa altura

Que passei a maior parte da vida a correr

Julgando que podia vencer

E até mesmo ultrapassar o tempo

Até que me disseste

Que somos escravos dele

Que com a importância que damos ao nada que ocupa a maior parte dos nossos dias

Estamos esse tempo a esgotar

E num instante vamos reparar o quanto depressa envelhecemos

O quanto rapidamente

Se esgotou o tempo

Enquanto sentimos que há tanto ainda por fazer

Por nos termos perdido no que não valia a pena

Julgando que aquilo que gostávamos

Lá estaria à nossa espera

Mas tudo envelhece

Tudo se altera

E por isso quando voltamos ao que gostamos

Reparamos que tal mudou

E assim eu aprendi a ter medo de te deixar

Tenho medo que quando voltar

Não te vá reconhecer

Tenho medo

Que a própria memória se possa desvanecer…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 24/08/2012
Código do texto: T3846338
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