Desculpem-me…
Este breve intervalo
Este lapso de comunicação
Porque mudei de canal
Nos meios de comunicação
E deixei de ver futebol
Ou as novidades das estrelas do momento
Liguei a algo de parvo
Algo que se passa
Algures para os lados do Irão…
Liguei-me a algo de menor
Algo de estúpido
O massacre de mineiros algures
Num algures que dizem ser uma democracia
Não porque queriam enriquecer
Mas simplesmente porque ousaram pedir umas migalhas a mais
Para viverem menos mal
E tiveram com o seu pedido a paz
Do seu momento final…
Liguei-me a um nada
Que é uma Europa em dissolução
Apenas porque uns poucos
Querem ameaçar mais um milhão
Lançando a fome e a miséria
Naquilo que chegou a ser um sonho de solidariedade
Querem comprar mais uns luxos
Enquanto a pobreza antiga
Deixou os livros
Os filmes
Passou a ser a nossa realidade…
Desculpem por me preocupar com ninharias
Como aquelas de quem elegermos
Se sentir no direito
De velar pelos seus interesses
E nunca pelos nossos
Enquanto usam o erário público
Para se engrandecerem
E para tirarem o pão a quem tem vontade de comer
Desculpem-me então
Tantas asneiras
Tantas tolices
Tantas futilidades
Desculpem a minha revolta
A minha ausência de silêncio
A minha total incapacidade em pactuar
A quem delegamos o nosso futuro
Mas que no cenário mais benevolente
Dedica as suas energias
A nos silenciar
Porque tal atrapalha
O seu estimável prosperar…