Ventos de Guerra…

- Há precisamente vinte anos começava uma breve e obrigatória estadia nas forças armadas de Portugal, baseada num regulamento dos tempos de guerra, em que qualquer jovem considerado válido deveria cumprir serviço militar. Durante esse tempo, e quando tinha tempo, fiz poesia de maneira a me libertar de um local e de uma função que detestei, violento aos mais diversos níveis. Lá provei que a minha escrita pode valer muito pouco, mas pelo menos serve para desanuviar em alturas delicadas…

O presente poema é uma versão de um que fiz depois do mais penoso exercício militar a que me submeteram…

Meu amor

Olha o céu

E esquece por momentos

Que este é feito de merda

Meu amor

Abraça-me

Esquece o céu

E espera comigo que ele passe

Assim como certamente passarão os

Ventos de Guerra…

Esquece que tudo está perdido

Esquece que aquilo porque lutámos e lutamos

Nos dizem que foi um desperdício

Não percas a fé

E enquanto esqueces

Até a tempestade passar

Fica comigo…

Esquece a desilusão

Que nos ameaça devorar

O mesmo tipo de sentimentos que nos assaltam

Quando nos apercebemos

Que é o frio Outono

Que sucede a um jubiloso verão…

Esquece as lágrimas que ameaçam definir para sempre o teu rosto

Esquece que elas estão de passagem

Se nisso acreditares

E que nem meros lagos

Ou ínfimos sulcos

No teu rosto irão deixar

Esquece que tudo não vale a pena

Quando o tudo

O que nos faz

É apenas magoar…

Esquece o horizonte vermelho

Que vem amanhã

E no dia seguinte

Aprende a olhar para além dessa linha

Aprende a olhar para um local

Um tempo

Uma realidade

Que valerá realmente a pena

E compensará toda esta mágoa

Todo este tormento

Aprende a ir mais longe

A ir para além do próprio tempo

Na certeza adquirida

Que tudo vai mudar

Desde que não nos rendamos

E deixemos de lutar

Porque manter a esperança

Será porventura

O maior segredo

Ou o maior dilema

Que uma existência encerra

Sendo que para atingir o céu

A nossa desejada tranquilidade

Por vezes torna-se necessário sobreviver ao purgatório

Sobreviver aos

Ventos de Guerra…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 17/08/2012
Código do texto: T3834462
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