Houve um tempo…
Antes de nascermos
Em que foram tecidas as leis do mundo
Que ditariam a forma como agiríamos
Como nos conheceríamos
Leis oportunas da civilização
Que quando quiseram ditar a forma como deveríamos sentir
Perdeu todo o sentido
Toda a sua razão…
Viemos assim ao mundo
Num mundo formatado
Que perdeu o seu rumo
Quando em vez de formar
Quis enquadrar
Tudo numa realidade
Onde controlaria todas as suas variantes
E de onde nada poderia escapar…
Mas claro
Era suposto ser uma democracia
E por isso tolerava cantos de diferença
Sem a assimilar no entanto
Tratando esta como um mero jardim zoológico
Que existia em nós para dizermos que a integrámos
Mas que vivia em nós
Mas num local devidamente de nós separado…
E chamámos aos diferentes alienados
Ou na melhor das hipóteses “artistas”
Seres folclóricos
Que faziam bem à nossa vista
Mas um terrível mal à nossa socialização
E por isso os remetemos
Para uma espécie de prisão…
Porque não há pior prisão
Do que aquela que não tem paredes
Que nos dá uma ilusão de liberdade
Não nos permitindo na realidade
A podermos aproveitar
Houve pois um tempo
Em que o tempo acabou
Quando pegámos em quem tinha a coragem de ser diferente
Ou se tinha assim naturalmente nascido
E excluímos
Em vez de incluir
Houve no entanto um tempo belo
Que li algures nos livros
Um tempo que sei que existiu
Que quando tal dizia
Dizia com todo o sentido
Houve um tempo
Em que te quis de facto
Plenamente comigo…