Amigo

Daqui avisto o poeta.

Taciturno andando de um lado para outro,

com teus pensamentos retorcidos que obscurecem dias comuns.

Noto tua impaciência, tua dor.

Sobre a mesa teus papeis estão espalhados,

ele então escolhe um ainda em branco

e vomita tuas palavras tão cruas e puras.

Agressivamente a folha transborda

e o que não cabe descrição escorre de teus olhos

e desliza por tua face cansada.

Por um instante admira tua criação,

embelezada de sentimento o pequeno papel parece mais firme,

entalhado nele confissões antes amordaçadas,

e agora cresce a expectativa de que a receptora da carta

consiga sentir toda a intensidade

da qual se viu jorrar tuas palavras.

Nossa amizade me permite conheçer o conteúdo daquela carta

e então o admiro em meu silêncio,

enquanto daqui tento me desenhar,

perco-me em histórias semelhantes.

Torço para que o nobre poeta fique bem,

mas enquanto ele sofre

me delício com tuas palavras fúnebres,

e nessa dor,

me igualo a ele.

Lorenna Matos
Enviado por Lorenna Matos em 26/07/2012
Reeditado em 26/07/2012
Código do texto: T3798194
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.