Amigo
Daqui avisto o poeta.
Taciturno andando de um lado para outro,
com teus pensamentos retorcidos que obscurecem dias comuns.
Noto tua impaciência, tua dor.
Sobre a mesa teus papeis estão espalhados,
ele então escolhe um ainda em branco
e vomita tuas palavras tão cruas e puras.
Agressivamente a folha transborda
e o que não cabe descrição escorre de teus olhos
e desliza por tua face cansada.
Por um instante admira tua criação,
embelezada de sentimento o pequeno papel parece mais firme,
entalhado nele confissões antes amordaçadas,
e agora cresce a expectativa de que a receptora da carta
consiga sentir toda a intensidade
da qual se viu jorrar tuas palavras.
Nossa amizade me permite conheçer o conteúdo daquela carta
e então o admiro em meu silêncio,
enquanto daqui tento me desenhar,
perco-me em histórias semelhantes.
Torço para que o nobre poeta fique bem,
mas enquanto ele sofre
me delício com tuas palavras fúnebres,
e nessa dor,
me igualo a ele.