AMIGOS
www.pporto.blogspot.com.br ("Patrícia Porto - Sobre Pétalas e Preces")
Os amigos são como cofres
que nos permitem segredar nossos delírios,
que nos permitem guardar nossos desejos
e agradar todos ouvidos
só de mentiras e doces acomodações:
“Como você está bem! Emagreceu! Está mais jovem!
Está com cara de quem viu passarinho verde!
Deve estar amando.”
Os amigos vivem de si para com eles mesmos
e vivem para que possamos subtrair deles
a última nota lírica da nossa própria existência:
“_ me dá cá a tua mão, meu amigo, minha amiga...
Não chora que eu choro também.”
“Vai passar... Tudo bem. Estou aqui.”
“Como gosto de rir com você!”
Os amigos são assombrações que nos intimidam
quando cometemos erros (que culpa!): “fumando de novo? comendo outra vez?”
São responsáveis pelo acesso a uma inconsciência muito íntima: “tive um sonho revelador, eu sei que são duas horas da madrugada, mas preciso te contar...”
Os amigos são como as coisas que eu não digo,
mas permanecem grudadas na mente: para sempre - o sempre - quem saberá dizer?
Poderemos ficar meses ou anos sem nos ver e ainda assim
inexorável é saber que há sempre o tempo da redescoberta.
Pois para os amigos somos sempre repletos de infância,
de lúdicos sinais.
São pérolas,
os amigos são pétalas, pedacinhos de pão
a nos guiar no caminho de volta - ou pra longe de casa:
depois do bar, do choro, da festa, da agonia.
Lá estão eles: a nos matar a fome, a solidão, o medo dos imprevistos,
a nos alimentar a vida só de amor, abraço e bondade.