Vendo o meu reflexo em ti...
Olhar para ti, era para mim
um reflexo que não mais causava
espanto ou surpresa. Olhar-te era
o mesmo que olhar para algo que
de certo modo já estava acostumada,
acostumada ao longo de tantos anos,
ao longo de toda a minha convivência
comigo mesma. Olhava-te simplesmente
e via o meu reflexo em um espelho
inexistente.
Ao mesmo tempo que já estava habituada
ao meu reflexo, vez ou outra assustava-me
relembrando através de ti, lembranças
minhas, que se tornaram
nossas.
Você era, ou é - não sei ainda
o meu espelho imaginário, invisível
rotineiro, mas aventureiro e por vezes
assustador. Como todos os espelhos,
corria o risco de cair e partir-se no chão.
Mas eu não poderia deixar que isso acontecesse
não poderia te ver em pedaços
se isso acontecesse meu reflexo
nunca, nunca mais
seria o mesmo.
Cheguei a pensar que fazia sentido,
as pessoas a minha volta me garantiram
que não, que definitivamente não era
dotada de sentido, essa nossa
louca e sensata relação.