A Melhor Amiga

A Melhor Amiga

(Renan Flores)

Eu costumava ter uma melhor amiga,

Uma amiga verdadeira e de caráter

Uma amiga que me trazia luz e alegria

Junto dela eu brincava e sorria

E sentia que aquele era um bom motivo pra estar vivo

Mas essa amiga morreu...

Os dias de alegria foram encobertos por uma nuvem

Uma grande nuvem negra de carvão e pó

Uma nuvem que encobriu todo o horizonte

Corremos para nos esconder, corremos para a caverna

Mas minha amiga ficou pra trás e foi pega pela nuvem

Pela grande nuvem negra de carvão e pó

Em segurança do lado de dentro da caverna

Eu chorei a perda de minha amiga

Mas não tive coragem de sair da segurança da caverna

Quando a escuridão diminuiu e os abutres adormeceram

Tomei coragem e saí à procura de minha amiga

Procurei sobre a montanha, no meio das árvores e entre o rio

Procurei nos lugares em que costumávamos brincar

Chamei por seu nome dias e noites, mas ela não apareceu

Imaginei o pior: “Minha amiga morreu!”

Dias mais amargos eu nunca provei

Noites ainda piores eu chorei

Sofri com o frio, com a escuridão e a solidão

Os dias e as noites se arrastavam pesadamente

E eu não mais tinha coragem de abrir os olhos

Voltei para o fundo da caverna e lá fiz minha morada

Afundei-me na escuridão, na treva sem saída

Minha alma perdida entre os mundos

Mas justamente quando minha alma errava pelo limbo

Eu ouço minha amiga chamar, chamar a meu nome

“Fantasmas! Demônios! Deixem-me só, deixem-me só!”

Cada grito entrava o mais fundo possível em meu âmago

Quanto mais eu implorava por paz, mais os demônios me tentavam

Finalmente perdi as forças e cedi à tentação do tinhoso

Acreditei em suas falsas promessas, em seu jogo perverso

Mesmo sabendo que eram mentiras, segui as vozes

Quando acordei, estava fora da caverna, o céu continuava encoberto

Mas nada de minha amiga

As vozes continuavam a me atormentar, a escarnecer de mim

“Parem, eu suplico, qualquer outro castigo menos este!”

E as vozes ecoavam em minha cabeça, me levando à loucura

E então desmaiei

Acordei num lugar que jamais tinha visto ou imaginado

Uma mão me afagava, uma voz cantava

Era minha amiga, mas ao mesmo tempo não era

Eu reconhecia sua voz, seus gestos e postura

Mas de resto em nada se parecia com minha amiga

Talvez fosse um último ardil diabólico daquele que ri de nós

Mas não era, eu podia sentir isso

Era minha amiga, mas diferente da amiga que eu conhecera até então

Ela tentou conversar comigo

Mas minha mente rejeitava que sua voz saísse daquele corpo estranho

Ela então colocou sua mão sobre meus olhos, encobrindo-os, e continuou a falar

E ela voltou a ser a minha amiga de tempos atrás

Tive coragem e conversei com ela, ela conversou comigo

Conversamos por horas e horas, exatamente como antes

Reatamos os nossos laços e finalmente consegui sorrir depois de muito tempo

Sua voz me embriagava, suas palavras me faziam delirar

Caí no sono, embalado pela poesia de minha amiga

Quando acordei, estava de volta ao mundo

O céu estava claro; a nuvem dissipara!

Os abutres fugiram e a brisa estava mansa

Mas minha amiga não estava por perto

Procurei e chamei, e então chorei

E o céu chorou comigo

Mas minha amiga conversava comigo, mesmo não estando ali

Voltei para a caverna, onde podia ouvi-la melhor

Mas mesmo quando eu saía pra caçar, podia ouvir sua voz em meus ouvidos

Eu costumava ter uma melhor amiga,

Uma amiga verdadeira e de caráter

Uma amiga que me trazia luz e alegria

Junto dela eu brincava e sorria

E sentia que aquele era um bom motivo pra estar vivo

Mas essa amiga morreu...

Morreu porque só assim podia vir morar dentro de mim

E agora, aonde quer que eu vá, tenho minha amiga dentro de mim

Posso senti-la vivendo em mim, vivendo junto de mim

Seu calor é meu calor, seus sorrisos sãos os meus sorrisos

Sua vida é o que me faz continuar vivo

Eu perdi minha melhor amiga

Mas encontrei algo muito melhor

Que não existem palavras para descrever:

A melhor amiga que poderia existir

Uma amiga dentro de mim

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 18/05/2012
Código do texto: T3673825
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