O JOGO DA VIDA
ADEUS AMIGO
Homenagem a um grande Amigo e parceiro de jogo de canastra
Silenciosamente sofria
Silenciosamente talvez pedisse perdão
Silenciosamente talvez, tentasse se desculpar.
Silenciosamente talvez, tentasse chorar.
E ninguém ouvia, ninguém percebia
Silenciosamente zombou do destino
Silenciosamente esnobou a escuridão
Que todos por ele façam soar o sino
Que todos por ele cantem este hino
Seu nome era Divino
Sua majestade Divino Avelino
Eu tinha um “curinga” no baralho da minha vida
Eu tive um Amigo chamado “Curinga”
Que no jogo da vida
Não gostava de Damas
Jogou muitas cartas boas no lixo
Por não saber lidar com elas.
Ou porque talvez houvesse outras na manga
Eu tive sempre comigo, um Zap no jogo da vida.
Um Sete de Copas para uma reflexão
Antes de uma determinada ação.
Um As de Espada para uma boa jogada
E um sete que finalmente
Mostrava-me impertinente,
Que nem tudo que reluz é Ouro
Que com ele, nem sempre se pode ser um touro.
Mesmo que nos pareça um tremendo tesouro.
Era uma carta que muitos queriam puxar,
De uma esperteza singular
Era poderosa, mas de fácil manuseio.
Pois se encaixava em qualquer lugar
Um olhar simples, era um julgamento.
Uma pausa, um pensamento,
Um aceno podia ser um lamento.
Ou um simples consentimento
Pois nunca foi inconstante
Contudo, de natureza obstante.
O homem de meio sorriso,
Que valia por uma gargalhada
Que não gostava de palhaçada
Nunca julgava ninguém,
Porque talvez não aceitasse ser julgado
Não que não fosse humilde
Às vezes, até muito debochado.
Não porque fosse arrogante
Camisa de linho, não o deixava pedante,
Mas com certeza se sentia muito elegante
Era mais pela ânsia de viver intensamente
Quando por exemplo, escovava os dentes.
Visando outros expedientes
Era mais pela ânsia de buscar a felicidade
Valorizava o básico
Era o homem do campo e da cidade
Que adorava a trivialidade
Detestava futilidades
Acertou tantas vezes, naturalmente.
Errou muitas vezes impulsionado pelo instinto
Não possuía o freio das chamadas regras sociais
Tudo que você oferecia a ele para agradar,
Presenteando ou improvisando, era demais.
Nunca admitia seus erros, seus enganos.
Porque com certeza sempre tentou acertar
Não era muito duro consigo mesmo
De jeito nenhum sabia chorar
Levava a vida a esmo
E gostava muito de coisas debaixo dos panos
O nome dele sempre foi pronto.
Sempre estava pronto pra um jogo de truco
Sempre estava pronto pra uma rodada de canastra
Sempre estava pronto pra estar com Amigos
Mas não sabia que estava pronto para morrer
Não sabia que não tinha pernas pra correr
Da Morte
Que faria muita gente sofrer
Nunca desperdiçava uma chance
De fazer Amigos,
De ajudar o semelhante
De ficar calado
De fingir que não sabia
De acertar quando podia
Meu amigo do Peito
Sem qualquer preconceito
Com certeza não era perfeito
Foi ele que se curvou diante do “Rei”
O Rei do destino, que inventou a fatalidade,
Que inventou a canastra limpa
Que inventou a canastra suja.
Que inventou o verbo Blefar
Que inventou o verbo Nascer
Que inventou o verbo morrer
Um Rei tem pouco significado no jogo de blefar
E pode ser substituído por um curinga no jogo de canastra
Muitas vezes, no sufoco, você o joga fora.
É uma carta simples no jogo de caxeta,
Apenas mais um componente
Mais uma carta indiferente.
Mas no jogo da vida, o Rei é que manda
O Rei é que desmanda
O Rei todo poderoso, irreverente.
O Rei de poder infinito, insolente.
O Rei que sufoca qualquer grito
O Rei invisível, divisível
O Rei que tem seu nome escrito
No livro sagrado e pelo homem adorado.
E por ele criado
Meu Amigo Curinga, não blefou.
Deixou-nos a chorar
E fez uma rápida despedida.
Do jogo de uma vida dolorida
E por não poder mais vê-lo,
Caminhando por ai
Nas estradas de Itaberaí
É que estou aqui
Por Luiz Bento – 27.12.2003
pouco depois de sua morte