O Tempo Certo…
Algo surpreendido reparei que o tempo medido
Não é o meu tempo
Que ele e eu
Por vezes andamos em diferentes direcções
Em compassos diversos
Que pelas leis do cosmos
Deve ser um instrumento
Para evitar determinado tipo de colisões…
Como ter a sensação de te estar a ver a afogar
E te querer salvar
E constatar que não queres essa ajuda
Porque se trata de uma ilusão
Do tal tempo
Com o qual ando em contra mão
Porque de facto um dia te afogaste
E eu não estava lá
Estava algures no teu futuro
Onde já tinhas aprendido a nadar
E assim a minha função
Seria apenas
Não de te socorrer
Mas as lágrimas dos teus mergulhos
Dos teus naufrágios
Me limitar a secar…
Percebi então a função disléxica do tempo
Aquela de me colocar no lugar certo
Na altura pouco adequada
Aquela de estar no caminho
Depois de já construída a estrada
Aquela em que os teus gritos
São hoje murmúrios de paz
Ou uma mera concessão de conformismo
Percebi que o tempo
Se distorceu
De forma propositada
Pois essa era a única forma de te ter comigo
Percebi que viveríamos sempre
Em diferentes realidades afectivas
Pois essa era a única maneira
De não sublimarmos
De deixarmos antes cicatrizarmos as nossas feridas…