E Ela Olhava…

A Lua

Sem realmente a perceber na sua totalidade

Olhando o que via

O que sentia dela

Com o seu lado lírico

Com a sua sensibilidade

Olhava para ela não percebendo a razão do seu lado oculto

Do seu lado negro

Não por mistério

Mas por mera falta de informação

Porque estava na rua a olhar para a lua

Quando a resposta às suas dúvidas

Passou num documentário

Fora de horas

Numa qualquer televisão…

Olhava com aquela expressão desolada

Sentindo que só a Lua olhava realmente para Ela

Só Ela a Lua realmente observava

Um valor perceptivo errado

Falacioso

Porque temos sempre quem olha para nós

Quem olha por nós

Sejamos fracos ou fortes

E é assim que nunca estamos realmente sós…

Mas ela teimava e persistia nesse olhar

Um tipo de olhar algo amputado

Que ignora parte da linguagem dos sentidos

Aquela que nos diz por exemplo

Que em certas alturas

Um poema de amizade

Pode ser o mais belo poema de amor

Que tememos em ler

Imbuídos nesse espírito

Tememos estragar a sensação de amizade

Tememos que o amor tal macule

Receando que a fraternidade dê lugar à dor

Esquecendo que ambos os sentires

Se complementam

E que separados

Tornam impossível a nossa humanidade

Mesmo que digamos o contrário

Tal como um homem

Nunca pode renegar a sua fé

Porque é ela

Que quando tudo parece esvaziado de nada

É ela

Que nos mantêm de pé

E não

Não é preciso

Termos um Deus claro e identificado a adorar

Não é preciso um manual

Que tenhamos de seguir

A Fé

É o que nos alimenta mais profundamente

É o mapa interior

Natural

E nada tecnológico

Que nos indica para onde ir

O mesmo tipo de raciocínio

Que torna o amor

E amizade

Uma una identidade

Apesar de um

Termos que sentir na pele

Termos de o tocar

Termos de o absorver

Temos que o assimilar

Enquanto a outra

Nos basta sentir

Mesmo à distância

Mas são o mesmo

Porque como base

Possuem o intenso aspecto afectivo

Sem o qual

Não é possível viver

E por isso

Ela olhava de facto

Mas olhava

Sem realmente o entender

E assim

A vida perante ela desfilava

Enquanto Ela

Tal desperdiçava

Porque era demasiado contemplativa

Abstracta

Abstraída

Ela

Ela Olhava…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 14/03/2012
Código do texto: T3553023
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