Vem vilão

Estou trazendo presentes

Ideias no álcool para os poetas que bebem

Por que se escondem assim?

Achando que terão visões nos fundos dos copos

Às vezes o mundo parece tão surdo quanto os tijolos das casas

E eu rezo quieto por nada

Estamos todos loucos

Enfiados em fantasmagóricos aventais brancos

Olhos mortiços

Como os dele naquela cadeira antiga

A porta de seu quarto no hospital

A que reflexões mortas ou antigas lembranças se entregava?

Talvez só estivesse com medo

Como todos os outros sentados nas fileiras desalinhadas das salas de aula

Sonhando senas eróticas e amorosas com a professora loira

Escrevendo poesia perdida durante as aulas

Só ela não liga o bastante

Melhor cheirar solvente e mentir para parecer rebelde

Falar de demônios e vozes sentir-se Aleister

Delirar

Eu também deliro e viajo preso as maquinas

Vida de operário

Um salário qualquer e dividas

Estou sofrendo

Mas trago presentes

Por que de alguma forma tocamos violão no quartinho dos fundos

De alguma forma isto nos parece arte

A se pudéssemos correr pelas avenidas com nossos carrões caríssimos

E recitar poemas pagos nos tele jornais do meio dia

Mas isso e só aqui

Sonhos de Porto Alegre só estão aqui comigo

Não posso alcansalos ainda

Talvez nunca possa

As coisas começam e vem carregadas no minuano

Pelo menos e o que esperamos

Aborrecidos manhãs a fora

Em direção ao ônibus ao trabalho a rotina

Sentindo nos presos

Há como e grande o desejo de ficar

Como urge a necessidade de mudanças

Mas não mudamos, não por fora.

Não para os outros pelo menos

Apenas para-nos mesmos, apenas por dentro.

Num labirinto no castelo da alma

Tentando desistir e falhando

Tentando uivar em papel xerocado

Tudo e tão irremediável

Para que tantas ideias?

Tantas criações?

Nossas mentes se perdendo, achando que seria bom se tocássemos em bares.

Ou em festas a cinquenta centavos no boné

Um couvert artístico

Achando que da pra viver de poesia

Um rosto qualquer na capa de um livro

Recitando para os outros, para os leigos.

Como ilhas cercadas, nos sufocando num mar idiotamente azul.

E mudo

Por que e só o que somos

Entregues aos longos banquetes da sanidade furtiva

Não temos medo da sombra

Somos o abismo

Comprando refrigerantes baratos em lanchonetes vazias

Escutando os ciganos vendo o tempo passar

Como pedra nas águas de um riu

Ouvindo musicas barulhentas de CDs emprestados

Uma vida de empréstimos compulsórios

Uma multidão de amigos viciados, carecendo de ritmo e magia.

Espalhando-se em fugas do atlântico, e do humor do jovem selvagem de hoje.

Jovem que nos somos, e escondemos no armário do quarto.

Por traz da pilha antiga de roupas

Só o que e bonito esta ai para mostrar

Só o que e bonito

Noites de outrora e jovens e belas promessas

Mostre a eles o que eles querem ver

Pode ser divertido fingir o tempo todo e enganar enquanto se espera a própria vez

O momento de ser enganado

Como se não pudéssemos fugir da noite

Ficando sempre a espera

Às vezes e fácil deixar para La

Ficar em casa olhando fotos velhas, reconhecendo rostos toda uma vida desfilando diante dos olhos.

Revendo antigos fantasmas

Espectros antigos, mas atuantes.

A garota gorda do colegial, com suas lentes grossas e coloridos desenhos.

Um horror nos punhos fechados de um inimigo maior

Medo, terra, chuva e vento como um presente indesejado.

Vem vilão que já não o tememos

Temos canetas e blocos e xícaras de café fumegante

Tem os o vinho e a poesia

Somos outros agora

Sim somos outros

Ainda que imolados em ódios disformes e lembranças

Pra podermos luzir nos caminhos da vida, na batalha sem trégua do dia a dia.

Você ainda acha que pode fugir?

Eu conheci alguém que tentou amigo

E ate hoje não conseguimos encontrar todos os seus pedaços

Pobre Queli onde andara perdendo pedaços seus agora?

Em quais bares estará esquecendo sua própria vida?

A que caralhos estará tentando agradar por mais uma dose?

Suas fugas nunca foram longas minha amiga, jamais foste a qualquer lugar.

Não e que estivesse errada, não e que não devesse ter tentado.

E só o seu caminho garota

Só o método e que te condena

Queli bebendo cerveja pra ficar alta e distante entre os vagabundos do bairro

Queli fungando carreiras perto das mesas de sinuca

O pó sobe rápido, eu a vejo pobre Queli você já esta longe, mas logo volta, logo cai pesada como chumbo.

E tudo ainda esta La

Tudo ainda esperando por ela

Silenciosa sentindo medo

Um gosto de morte na boca a má sorte grudada nela

Ela nunca mais será a mesma meu amigo

Nunca mais

Esta perdida

Agarre se a seus panfletos musicais e CDs

Você não pode fugir

Vem vilão por que não podemos fugir

Por que estamos cansados e tristes

Às vezes impacientes

Eu me pergunto

Quanto tempo mais?

E um ciclo que se fecha

Um grito que termina como devia terminar

Debatendo-nos no escuro

Debatendo-nos no escuro

Ate o fim

Futuro adentro

Debatendo-nos no escuro

No escuro.