Compêndio lírico para 11 de março

bem aventurada a língua ousada,

bem aventuradas, as madeixas presas, a pele macia, a face em rubro (vermelha e malva) a casta ditosa, a blusa folgada.

bem aventurada a pergunta

bem aventurada a questão, instigante, cortante, aguda e afiada

bem aventuradas as sensações de um estranho na sala

bem aventuradas as tragadas

bem aventurado o tabaco, cheiroso,esguio, macio

amigo de mais valia,

desejada prata

bem aventurada donzela

bem aventurada, zombeteira,esguia, palhaça

bem aventurada aquela que ousa, dançar e cuspir em fantasmas de casta

bem aventurada, ovelha

bem aventurada a presa do lobo e o prato da ceia (desgarrada)

bem aventurada, pelo desapego

à conversa

bem aventurada, a empedernida alma de seda fiada

bem aventurada a gota d’ouro

bem aventurada a divina insatisfação

bem aventurada!

bem aventurada!

bem aventurada!

o amor é um solteirão severo

mas ainda há de amá-la

rugiram os leões da alcova

atravessaram as pontes e vestiram as máscaras

estenderam o tapete rubro-sangue, afinaram as harpas, cornetas, liras, e, no momento grandioso da estrela

salpicaram flores, entre aplausos e rimas:

falácia!

em nenhum momento, desejaram verdadeiramente o contato

(na verdade estas famílias estavam na mais alta)

torre do castelo

dourada...

além do mais, os menores costumavam feder

(necessidade?)

curiosamente,

certa notável alheia à história

caminhou pelos fundos:

grand finale!

ultraje,

despi as roupas da prudência e esquartejei a linguagem

mal estar!

eis a diferença entre cativar ou livrar uma alma

(responsabilidade que se espalha como o pó)

vislumbrando os campanários, encontrei acredito,

uma jóia de princesa

bem lapidada, doce melaço, apetitosa beleza

(seus luzeiros como flechas, eram brilhantes como turquesa)

seria prudente, roubá-la?

jogá-la no dorso de um cavalo sadio,um potro, e preparar...

uma cama de flores divinas?

amarelas?

“sonhas, poeta

sonhas por deveras!”

seria, imaginar tudo isto, uma grande quimera?

vou-me embora, mas,

sorrindo em pensamento cismo:

à ele retorna, o que for divino

naquela tarde,

exatamente naquela tarde

vi um corredor aveludado, de longos cabelos, acastanhados;

exatamente naquela tarde, estavam lá:

cheirosos e penteados

naquela tarde, exatamente naquela tarde,

tentei em vão fixar meus pensamentos: irônicos, acadêmicos;

e sem licença, exatamente naquela tarde,

vazei as retinas alheias, descendo,

por entre íris e nervos: ópticos incandescentes

naquela tarde, exatamente naquela tarde

sem ao menos saber do que se tratava

cheguei a um lago, estomacal e quente

tudo isso!

exatamente naquela tarde

naquela tarde, ousei tocar em vísceras apaixonantes

nicotinadas

naquela tarde, exatamente naquela tarde

furtava-me o desejo, o controle e o arbítrio do instante

naquela tarde, exatamente naquela tarde

senti algo impressionante

exatamente,

naquela tarde!

alívio,

eis o que desejei verdadeiramente,oh! bela senhorita

todavia confesso, que o perdão me excita

(e o seu tempo, que só vem por merecimento)

escorrega, dignifica, massageia e explicita

vontades

estas, definitivamente diferentes e furtivas

me intrigam!

ah! se baco fosse mesmo meu amigo:

o que seria de mim? sem a diária taça de vinho?

o fascínio de um homem ,está mesmo no vício?

palavras...

(cá pra nós: será que o blake escapou do equívoco?)

“o caminho do excesso,leva ao palácio da sabedoria!”

eu, que sou homem comum,

levei pizza!

Rodrigo Starling
Enviado por Rodrigo Starling em 16/07/2005
Código do texto: T34880