Ao amigo que eu não soube ter, o irmão que poderia ser
Da varanda de minha casa
via passar um gigante
e seu filho.
Todos os domingos era sagrado:
Meio-dia,
lá vinham eles.
Em uma mão o jornal,
na outra, a mão do menino.
Letra maiúscula
puxando as minúsculas
formando monossílabo: Pai.
Os anos engatinharam...
Tornei-me colega.
Ele quis e viramos amigos
O destino nos quis vizinhos.
Eu aqui e ele ali.
Eu que vivia tão sozinho
não soube entender
a intensidade daquela amizade.
A vida nos levou
por caminhos diferentes.
Ele lá e eu cá.
Os anos correram como atletas...
Nos reencontramos.
Possibilidades de resgatar
aquela amizade.
Mas outra vez o mistério do fazer
produziu eu ali e ele acolá.
Afogava-me em dogmas e preceitos.
Nos distanciamos novamente...
Ao perceber que na vida
Só colhera solidão e dogmas,
Tentei-me aproximar.
Enviei-lhe cartão.
A distância que determinei
Era tamanha
Que as felicitações
não chegaram ao seu coração.
Afogando-me neste oceano-deserto,
traço estas linhas
pensando naquele que poderia
ter sido mais que amigo,
irmão:
Sândalo, Mel e Figo.
L.L. Bcena, 15/08/2000
POEMA 700 – CADERNO DOS ANJOS