SEGREDO
Que o hoje me perdoe.
Mas não posso mais segurar esse segredo.
É que alem de não suportá-lo
mais, só, comigo,
quero dividi-lo,
contigo, amigo.
É que passo todos os dias por você
o vejo só, sujo, andando por aqui e ali
e nunca parei para falar-lhe
ou simplesmente para fazer-lhe companhia,
por minutos apenas.
Nem para perguntar-lhe
se estava tudo bem, ou coisa assim.
E sei que depois que passava e só olhava,
você continuava a olhar pra mim.
Mas hoje, mudei.
Por alguns minutos parei.
Após o café da manhã, além do meu, comprei
mais um pão.
Não para mim, mas para você.
E ali, na porta da padaria,
onde lhe vejo todos os dias,
me abaixei,
lhe afaguei
e lhe dei o pãozinho que comprei...
E você, antes de comer,
não falou,
porque não fala.
Simplesmente me olhou,
abanou
o rabo como de costume,
pegou o pão e foi comer...