Presença Ausente
Olhe em sua volta. Quantos amigos você vê? Preste bem atenção à pergunta, eu disse amigos e não colegas! Quantos vê? Difícil, não é? Os amigos vêm e vão, mas uma coisa sempre fica, a certeza de tê-los ao nosso lado. Não digo literalmente, me refiro a algo maior, me refiro a uma presença ausente! Que nos faz sentir perto mesmo estando longe. Diria que isso é contraditório? Que foge à lógica? Sim, eu também diria. Mas há coisas na vida que não se deve entender, mas apenas sentir. Sentir que aquele amigo está sorrindo depois de ver ou ouvir algo engraçado. Sentir que aquele amigo está triste, pois acabou de perder algo. Sentir que aquele amigo está nervoso com o resultado daquele jogo. Sentir que aquele amigo está cansado depois de um longo dia de trabalho. Enfim, sentir que o coração daquele amigo bate no mesmo compasso. Mesmo estando longe! Por que buscar uma razão pra isso? É o mesmo que buscar entender quem criou Deus! Isso foge à compreensão humana!
Numa relação de amizade existe cumplicidade, onde um se sente responsável pelo o outro. Àquele dizer “se vira que o problema é teu”, não cabe entre amigos. Àquele sentimento de dúvida do tipo “será mesmo?” definitivamente não cabe entre amigos. Parece que em geral as pessoas evitam se envolver! O que temem? Que perigo há em se mostrar totalmente? O que tentam a todo custo resguardar? Será o medo de ferir-se? Mas já parou pra pensar que todas as nossas realizações pessoais só foram possíveis por causa de dores anteriores? Quer ver só?
Para darmos os nossos primeiros passos tivemos que cair bastante, e como isso devia doer! Mas a sensação maravilhosa de estar caminhando, nos fazia ignorar a dor. Para darmos as nossas primeiras pedaladas tivemos que levar cada tombo! Mas a sensação de liberdade que sentíamos com aquela bicicleta, nos fazia ignorar a dor. Para se ter do lado alguém que ama, quantos momentos difíceis tivemos que enfrentar durante o namoro, as noites sem dormir depois de uma briga! Mas a possibilidade de vivenciar um grande amor nos fazia ignorar a dor. Para quem passou pela fantástica experiência de ser mãe sabe, a dor tamanha que acompanha o trabalho de parto! Mas a alegria indescritível de poder segurar nos braços um filho que acabara de nascer, nos fazia ignorar a dor. Percebeu? Dói, mas recompensa. Então se envolva! Se mostre! Se machuque! Seja amigo! Ignore a distância! Quem disse que seria fácil? Aliás, o difícil sempre me atraiu. Jamais me envolveria com algo que não exigisse de mim empenho. Então sigo em frente, em chorar junto com quem está longe, em sorrir junto com quem está longe... Em ser amiga de quem está longe. Tal façanha me fez notar algo surpreendente: Que aquele amigo que se foi, na verdade nunca foi embora. Apenas esteve ausente!