Um mero canto…
A toda a hipocrisia social
Agora mais retocada
Mais disfarçada
Por ser virtual
E assim esse estado
Passou a ser correcto
Sentires diplomáticos
Onde a simpatia passa por ser uma obrigação
Com um “gosto”
Passamos a estar na pessoa que nos é indiferente
Com esse mero gesto frio e impessoal
Com esse mero clicar distante de um botão
Conquistámos essa pessoa
E sabemos
Que quando o ecrã se desligar
Teremos um lugar no seu coração…
Não perceberemos realmente
O que ela quis dizer
Num poema
Num pensamento
Que antes andava nas ruas
Mas que agora se tornou virtual
A vantagem ou desvantagem
De ser agora global
Pela força da grande rede
E não individual…
Mas quando era individual
Para o transmitir teríamos que olhar a pessoa olhos nos olhos
E saberíamos então que a ela não éramos indiferentes
Ao contrário destes benditos tempos
Onde o tal gesto duvidoso de um simples “gostar”
Para os mais incautos
Mais do que agradar
Está a enganar…
E assim propiciamos essa hipocrisia
Por não queremos dizer “não”
Embora isso passe mais uma vez
Por um simples clicar de um mero botão
Desta forma somos hiper-sociais
Hiper-socializantes
Mesmo que atrás deste ecrã
Esteja um anti-social
Mas somos um must da socialização
Temos inúmeros amigos
Que no mundo real
Nem sequer seriam conhecidos
E embalados no encanto
Fazemos por esquecer
O que é real
Partilhamos fotos na mesma hora em que as tiramos
Com uma audiência oca nas suas vidas
Que aprecia essas fotos de desconhecidos
Por ter em si
O que não reconhece
Um assombroso vazio
Mas a dança é eterna
E eu vou continuar o baile
Vou colocar este canto na rede
E vou esperar cinicamente
Por centenas de “likes”…