Um mero canto…

A toda a hipocrisia social

Agora mais retocada

Mais disfarçada

Por ser virtual

E assim esse estado

Passou a ser correcto

Sentires diplomáticos

Onde a simpatia passa por ser uma obrigação

Com um “gosto”

Passamos a estar na pessoa que nos é indiferente

Com esse mero gesto frio e impessoal

Com esse mero clicar distante de um botão

Conquistámos essa pessoa

E sabemos

Que quando o ecrã se desligar

Teremos um lugar no seu coração…

Não perceberemos realmente

O que ela quis dizer

Num poema

Num pensamento

Que antes andava nas ruas

Mas que agora se tornou virtual

A vantagem ou desvantagem

De ser agora global

Pela força da grande rede

E não individual…

Mas quando era individual

Para o transmitir teríamos que olhar a pessoa olhos nos olhos

E saberíamos então que a ela não éramos indiferentes

Ao contrário destes benditos tempos

Onde o tal gesto duvidoso de um simples “gostar”

Para os mais incautos

Mais do que agradar

Está a enganar…

E assim propiciamos essa hipocrisia

Por não queremos dizer “não”

Embora isso passe mais uma vez

Por um simples clicar de um mero botão

Desta forma somos hiper-sociais

Hiper-socializantes

Mesmo que atrás deste ecrã

Esteja um anti-social

Mas somos um must da socialização

Temos inúmeros amigos

Que no mundo real

Nem sequer seriam conhecidos

E embalados no encanto

Fazemos por esquecer

O que é real

Partilhamos fotos na mesma hora em que as tiramos

Com uma audiência oca nas suas vidas

Que aprecia essas fotos de desconhecidos

Por ter em si

O que não reconhece

Um assombroso vazio

Mas a dança é eterna

E eu vou continuar o baile

Vou colocar este canto na rede

E vou esperar cinicamente

Por centenas de “likes”…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 06/11/2011
Código do texto: T3321155
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