Somos sons
Quem de nós saberia das horas equidistantes
Daquele nosso encontro ninguém se desencontraria
Naquela noite, qual de nós atrever-se-ia cantar
E o cheiro de uma cachaça ruim seria o refrão: amar
Amarga o nó da garganta de uma voz roca no meio de nós
Dona da cabeleira enrolada e macia, viva
E dos acordes de um violão saltam as notas estrangeiras
Letras confusas que não cantamos de uma lembrança passageira
E está quase amanhecendo e ficamos nós, todos juntos, nas fotografias, os nossos reflexos.
Escolho não usar o flashe porque a luz de cada um ali é que me guia e nem o zoom, pois, o que mais preciso captar de quem estou tão perto?
Lá no balcão se pede uma cerveja no grito
O samba profundo batido de modo antigo entoando nossos corações lá fora
Reconhecem-nos na madrugada, mas não vou aconselhar acolher seu paciente agora
É o peito de um, o abraço do outro, casais nas quinas da mesa, no fim de um cigarro, de papel, de palha (lembrei-me da geléia de amora)!
Fizemos de nós a melhor companhia da noite inteira
A música brasileira também nos acompanhou quietinha, como são as mineiras, de mil tons
Era o som de duas castanholas de uma bonita preta
Que celebrava o que é nada certo numa terça-feira, a noite era cinza
Conhecemos novos sorrisos, doces olhares
Frio contido, no meu cachecol marrom
Mas é só pra amanhã que prometo mais poesia às minhas novas companhias
É que na trajetória inusitada das ruas que eu descubro um novo som.