A Menina Poeta
Algumas vezes seu sorriso era triste,
Contido, quase despercebido.
Havia algo mais por trás daqueles seus olhos castanhos arredondados; quase mel na cor e no provável do seu inquestionável sabor.
Os cabelos, agora longos, repousavam feito ondas em movimentos leves sobre os ombros.
Era uma linda menina em corpo de mulher.
Impossível não notar aqueles seus lábios inquietadores.
Sim, como jamais ninguém havia visto antes: cheios, intensos mais do que o maior sonho dos mais sonhadores dos poetas. Mais brilhante do que a luz do meio-dia refletida em espelho.
Havia no som da sua voz maior leveza do que o passeio pelo ar das folhas no outono;
E o dourado do sol na cor inebriante da sua pele, fazia crer no inacreditável ao mais intransigente dos incrédulos.
Não bastasse tudo isso, era ainda poeta. Nascera poeta; sonhadora, e sonho do mais imortal dos imortais.
De fato, havia nela mais do que o necessário, e era necessário que houvesse.
A natureza encontrara nela um repouso mais sereno que ela própria, mais suave do que o toque na face da nuvem de água de uma cachoeira em queda.
Como não podia deixar de ser; cresceu e floresceu tal como as rosas.
A cada novo ano era mais uma pétala que brilhava o sol; pois até mesmo este se rendeu a ela, como me rendi, e como todos se renderam.
Não havia o que questionar. Ela ocupara um lugar de onde poucos conseguiram sequer se aproximar. Talvez doado pelos deuses, ou por inteira cumplicidade da natureza, que reservou apenas para ela a maior sensibilidade, e todas as formas da sua própria beleza.
Daquelas suas mãos nasceram contos e poesias, daqueles seus caminhos, escritos agora em linhas retas por aquela que se tornaria conhecida como A Menina Poeta.