Ausência...

Seguro um livro sentada num banco, mas não o leio

porque as páginas dele estão em branco:

não sei ler um livro de páginas vazias...

Espero no silêncio...

simplesmente espero - que as dores de minh'alma sejam enfim despejadas sobre suas páginas

Só, absolutamente só, sobre a terra e as pedras e sob uma grande árvore calada...

Eu poderia dizer tudo à mudez da árvore - ela não representa ameaça

Mas um ser inanimado não pode retribuir do mesmo modo uma confissão

E eu queria dizer as coisas que ninguém quer ouvir -

eu queria dizer as coisas que não se deve dizer a todos

Busco a pureza de olhos compreensivos

Busco o alívio das narrativas compartilhadas

Alguém que me ouça como me ouve o papel -

uma quimera...

Queria a doce companhia de um amigo

mas os homens têm medo de se entregar à amizade... porque temem a si mesmos...

Preencho as páginas que posso... há algumas vazias no livro que seguro - são as dores que não conseguem sair...

“les hommes n’ont plus le temps de rien conaître. Ils achènt des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n’existe point marchands c’amis, les hommes n’ot plus d’amis.” (Le Petit Prince – Exupéry)

- Tradução do trecho: "Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos."

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 13/12/2006
Reeditado em 13/12/2006
Código do texto: T317125
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.