A suprema perversão da eternidade…

Dás-me um conceito

Devolvo-te tal com uma visão de tal

Trocam-se então olhares desconfiados

Esquecendo os dois que esses dois são subjectivos

Pouco ou nada lineares

Porque a tua pronúncia é do norte

E a minha é do sul

As palavras são as mesmas

O entendimento passa por ser nulo

E defendemos até à morte aquela que julgamos ser a nossa verdade

Ignorando que com isso estamos a estabelecer

A suprema perversão da eternidade…

Há então um prenúncio de fim

Dialectos iguais

De forma demasiado terminal se estão a separar

E às tantas nem sequer falamos com pronúncias diferentes

Falamos outras línguas

Opostas

Que em tempo algum se irão entender e muito menos se reconciliar…

Envenenamento mental

Intoxicação derivada de ideias feitas

De preconceitos

Olhamos as diferenças que há entre nós

Não como algo de saudável

Mas como um execrável defeito…

Deixando-nos dominar pela nossa policia do pensamento

Muito mais severa do que qualquer outra

Porque contra as outras podemos resistir

Podemos lutar

Mas a que vem de nós

É a sentença que define o fim da imaginação

A rendição total

Pena de morte em vida

E tudo isto porque não me soubeste ouvir

Porque eu não te soube escutar

Porque demos ouvidos ao exterior

E não à interioridade

Estabelecendo com tal a nossa sentença:

A suprema perversão da eternidade…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 19/08/2011
Reeditado em 19/08/2011
Código do texto: T3169359
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