O DIREITO DO AVESSO


Não quero tua alma fragmentada, Maninho.
Nunca desisti de ti.
A porta entreaberta da casa – que nunca teve tramela -
Até hoje permanece para que tu adentres.
Mais que tuas histórias espero:
Jorre de ti a abrandada alma, alva como foi.
Tal como, nos dias idos, vimos nós dois refletidos
No espelho do Rio Azul e rimos às gargalhadas.
Ainda hoje sinto o teu calor ao meu lado,
Quando, tu, parando de rir, acariciou-me a face,
E tuas mãos fortes seguram meu corpo,
Teus olhos se fixaram nos meus,
Nossas bocas de beijaram.
Tu me destes então um perfume
Que entranhado à minha pele permanece.
Foram veios d’água que rolaram de mim,
Quando tua cabeça repousou no meu peito;
Tu, te fingindo de morto, ali se acomodava.
Pulsava-me o coração descompassado e eu trêmula,
A mão nos teus cabelos finos passava.
Hoje, tu nada mais podes ser que minhas lembranças,
Que nossas cartas alongadas trocadas.
Nossos caminhos se fizeram longe,
E perto nos encontramos todos os dias.
Eu a ter uma saudade infinda, tu a não entender nada.
Essa saudade de não-sei-o-quê que sinto,
Que vem e me mata, é a intenção que não se cumpriu,
Porque minhas águas são rasas,
Cujas margens ainda te refletem rindo,
E teu rio fundo é impenetrável.
A mão a ti não posso mais estender,
Tenho medo que como mar tu me invadas...
Essa, Maninho, é a nossa Jornada.


Alto Paraíso de Goiás – Portal da Chapada, 12/11/2006 –
Já entrando para o dia 13.

Para meu amigo de há quase duzentos anos.
Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 10/12/2006
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T314168
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