RECORDANDO UM AMIGO
R E C O R D A N D O U M A M I G O
(Poesia em homenagem ao meu cachorro:
URCUS... que morreu em 1997)
A noite nem está aí, vem chegando...
De mansinho como uma roda dentada
Parecia imóvel, mas...
Ledo engano... Nunca pára
Os rebanhos se acomodavam para descansar
Um redemoinho fazia o que queria
Revirava as folhas e palhas de cá para lá
Estas teimosas dançavam com ele
Projetavam se em saltos acrobáticos
Ia de uma cova rasa a outra
Impávidas jamais paravam
Também removia porções de terra
Deixando rasos sulcos à volta
Como estrias em lava solidificada
Pálidos grãos de areia rolavam
O movimento eólico fazia subir as vestes da menina
Esta estava quieta como uma estátua
A princípio diria que nem respirava
Com custo movimentou uma perna
Segurou a saia que se erguia à toa
Olhou ao longe e se persignou
Quem é ela?
Eu não sabia, e ali do seu lado a ignorava
No meu peito uma trava de recordação
Lembrei nitidamente daquele veículo
Inanimado, mas insano e perverso
Numa esquina de asfalto negro
Atropelou e matou um amigo de longa data
Eu e a menina estávamos ali por objetivos diferentes
Ela admirava a natureza ao entardecer
Não dava importância à minha presença
Sua beleza me era irrelevante
Pensei: - Nem um túmulo lhe dei
Por merecimento seria um sarcófago
Os outros humanos não entenderiam
Venerar um cachorro a tal ponto?
(setembro/1998)