Apagar…
O rosto
Fazer uma limpeza exterior à alma
E assim quando partimos para algo
Que desejamos forçosamente novo
O rasto está apagado
E uma parte de nós se acalma…
Retocando fotografias
Fazendo a sua selecção
Retocando as memórias
Para só dizermos
Uma espécie de “politicamente correcto”
Porque certos passados
Se bem que vividos
Nunca são assumidos
E por isso
São
Uma espécie distorcida de traição…
E assim passamos a sermos
Testemunhas de algo
Com especial protecção
Daquilo que fomos
E não gostamos hoje de ser
Tendo a tal protecção
Para que esses tempos
As pessoas dos novos
Não os possam ver…
Perpetuando pois uma espécie de jogos de espelhos
Que se repete
E repetirá
Até ao exagero
Jogos de Feira
Que distorcem o que fomos
Distorcem uma espécie de realidade
Fazendo-nos esquecer
Que a verdadeira beleza
Tem um lado claro
E um lado mais negro
A verdadeira beleza está em sermos sempre a mesma pessoa
Assumindo os momentos menos bons
Com clareza
Não fazendo deles
O nosso pior
E mais evitado segredo…