Apagar…

O rosto

Fazer uma limpeza exterior à alma

E assim quando partimos para algo

Que desejamos forçosamente novo

O rasto está apagado

E uma parte de nós se acalma…

Retocando fotografias

Fazendo a sua selecção

Retocando as memórias

Para só dizermos

Uma espécie de “politicamente correcto”

Porque certos passados

Se bem que vividos

Nunca são assumidos

E por isso

São

Uma espécie distorcida de traição…

E assim passamos a sermos

Testemunhas de algo

Com especial protecção

Daquilo que fomos

E não gostamos hoje de ser

Tendo a tal protecção

Para que esses tempos

As pessoas dos novos

Não os possam ver…

Perpetuando pois uma espécie de jogos de espelhos

Que se repete

E repetirá

Até ao exagero

Jogos de Feira

Que distorcem o que fomos

Distorcem uma espécie de realidade

Fazendo-nos esquecer

Que a verdadeira beleza

Tem um lado claro

E um lado mais negro

A verdadeira beleza está em sermos sempre a mesma pessoa

Assumindo os momentos menos bons

Com clareza

Não fazendo deles

O nosso pior

E mais evitado segredo…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/06/2011
Código do texto: T3032476
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