O dia em que parti
O dia em que parti foi o dia em que me esqueci do que sempre almejei e abandonado deixei, longe de mim e do tempo que passei vagueando na noite, olhando o dia, contente por ser tudo o que sou menos aquilo para que nasci. E sem me despedir, fechei-me no me...u quarto vazio, enquanto fui correndo atrás dos desejos das paixões e dos anseios e de tudo o que vejo sem me preocupar com algo encontrar e, de todas as vezes que, sentado à janela me vi passar ia feliz nos braços de alguém que nunca tive para abraçar. Ai que inveja que tenho, perdido na vida, emparedado nos meus pensamentos, agarrado às memórias de outros tempos de chinelos, sentado no quarto vazio, enquanto me vejo a ser alguém. Nunca odiei ninguém, até ao dia em que por mim passei e tudo o que senti foi a indiferença de quem tudo na vida tem e se julga diferente de quem sou: andrajoso, despedaçado, submetido ao tempo que me empurra para o dia derradeiro. E eu por ali passei inconsciente, indiferente, todo contente, bem vestido como naqueles velhos domingos em que apertava o laço para ir à missa, olhando sobranceiro para tudo o que há, excepto para mim, que por ser pequenino, nem me vejo. Eu não queria o laço que levo; só aquele contentamento que nunca tive e me vejo encontrar nos sorrisos dos outros. Como será quando o dia findar? Virei alegremente bater á minha porta à espera de encontrar-me de braços abertos? Acaso espero ficar sentado a ver o pôr-do-sol? Posso conversar sobre aquilo que eu vi, mas por onde nunca passei; sobre as ruas que percorri, que só ao longe avistei, talvez até sobre outros países onde estive e que só em sonhos sonhei ou então sobre o que senti e os amores que perdi, eu que nunca a ninguém amei; sobre os livros que li e as aventuras que vivi quando apenas da janela do quarto olhei. Então poderei ficar mais próximo do que sou; poderei sentir os aromas que a brisa há muito levou; poderei perceber o que já esqueci; poderei amar a tristeza que sinto por causa daquilo que sempre fui. Depois, à noite não há diferenças: quando os olhos se fecham não me vejo passar, mas quieto, dormindo no fundo de mim com um só coração que bate.Bate devagar demansinho,pois os sonhos não se esvoaçam,antes,se bons,se abraçam,estava sonhando com o que fui com o que quiz ser,e passados os tempos de adolescencia e maturidade,abraço tudo o que de bom se concretizou e me emoldurou o carácter,delínio das torrentes de afecto que me circudaram e por vezes menosprezei.Vou querer sonhar sempre,e por vezes de olhos abertos,como é bom sonhar,ou recordar áureos momentos de magia que me fez sentir vivo,gritando por esse mundão que nos devemos apegar aos sonhos,vivê-los,para mais tarde recordar.