Poema para ouvir Cristina (*)
Subitamente
Do prenhe vão da parede
A voz irrompe
E nos prende
Em sua rede de afeto
E enleio dorido
- sede.
Em busca do tempo perdido,
Liberta o verbo interdito
O que, dantes,
Andava, só,
Entre dentes
- medo.
E plana singularmente
Declama o que há de gauche no peito
Anjo torto contra o infinito pé direito.
Vem
E não mais que de repente nos toca
Nos sopra no ouvido mouco
A mágoa em tempo algum
olvidada:
Ah! como nos provoca, nos magoa
Nos acorda o amor, essa lírica
Borbolépida
Trânsfuga da muda lettera.
E paira
- Entre tímida e desafiadora –
Sobre a áspera
E mecânica trilha sonora
Do trânsito que rasca e amedronta
Lá fora.
(*) Cristina Nunes recitando seu poema "Mariposa"