Um Mimo de Cigana
Um metro e sessenta, aproximadamente,
Postura de cabrocha, um perfilar que encanta...
Um olhar que olha debochadamente...
É a mulher trigueira que passa e alevanta,
Em pares, os olhares, que dantes vagos,
Agora, em afagos, cálidos e esperançosos.
É a cigana que avança desdenhosa...
De passos soltos, saltos ousados,
Que chamam atenção, quando passa manhosa.
Não se atrevem, as vozes, assustá-la...
Nem convocá-la ao diálogo pousado
São tantos frêmitos... mas que se calam
Porque uma cigana não é vassala!
Temos todos que reverenciá-la,
No quarto, no leito, ou na anti-sala.
E eu, um pássaro madrugador,
Sou réu e pobre admirador
Dos seus méritos e dotes angelicais
E de suas formas transcendentais.
Por isso, busco uma fórmula
De torná-la um monumento
E tirá-la do pensamento...
Mas, por ser da pequena póvoa
Na Roma dos meus passados,
Da Planície e dos alagados,
Timidamente lhe chamo: Doutor...
Mas, se isso ainda não presta,
Dou-lhe esse mimo... minha mestra!