FOME DE SABEDORIA
FOME DE SABEDORIA
Estou aqui escrevendo lentamente pra distrair a fome,
Não apenas a fome do corpo, mas a fome de sentido,
A fome de luz que busca a alma insone,
A fome de um tempo vasto e destemido...
Estou também ali escrevendo pra enganar a fome,
Eu não tenho nome, dinheiro, nem beleza,
Eu sou todo mundo e ninguém, sem grande sutileza,
Eu sou tudo e nada, no profundo olhar que some...
E tudo o que há de lógico em nossos passos sós,
Tudo que há de exato entre conceitos vãos
Voará pela superfície do que somos nós
Quando fechamos os olhos e levamos as mãos ?
Sim, estou com tanta fome de sabedoria,
Eu, que sou ninguém e quase todo mundo,
Eu, que sou a superfície da noite nesse dia,
Pergunto à alegria o que ela quer, no fundo ?
No fundo, a mente pesca sonhos pela noite inteira,
Mas não há sono no mundo que mate a fome,
E o subconsciente assalta a geladeira,
Sabotando a dieta do sentimento insone...
E continuo com fome, ceús, tanta fome de respostas !
Mas não é fome de carne, por bem ou por mal,
Eu nunca fiz nada exorbitante, em jogos nem apostas,
Embora eu ache a vida misteriosa como um jogo paradoxal,
Eu, que não tenho nome, nem armas, nem balas decompostas,
Tentei matar a fome; mas essa "Fome", simplesmente, é Imortal.
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