QUEM ESCREVEU ISTO ?

Jogaram um bilhete, na superfície ou no fundo,

Um bilhete deixado por um "louco" no dia

Em que escapou de um hospício chamado Mundo,

E, no bilhete, esse homem assim escrevia:

“Vivemos num mundo de aparências vazias,

Um mundo de frias máscaras sociais,

Um mundo que desperdiça almas e dias,

Mas será que os corpos não apodrecem jamais ?

Vivemos num tempo de imagens montadas,

Como se todos fossem produtos a mais,

Descartáveis como tudo o que o mundo nos traz,

Objetos que se consomem em velhas piadas...

Pois tirem logo esse espelho daqui,

Sou o sujeito mais feio do mundo,

E todos me julgam pela aparência, no fundo,

Pois tirem logo esse espelho daqui !

Vocês podem criar qualquer cirurgia,

Vocês podem considerar minha mente patética,

Mas vocês não percebem esta grande ironia:

Vocês são escravos da Ditadura Estética !

E, agora, apenas quero minha carta de alforria

De toda essa lavagem cerebral do ‘belo’,

Vocês se consideram ‘normais’, mas, como alguém diria,

Quem será normal sem ter nenhum castelo ?

Enfim, não me condenem por não gostar desse jogo

De parecer tudo e não ser nada, aos poucos,

Vocês podem rir de mim, mas colocariam a mão no fogo

Provando que vocês mesmos não são loucos ?”

E, no outro dia, após o psiquiatra ler os versos,

O bilhete foi levado ao diretor daquele hospício imundo,

E ele constatou quem havia fugido, entre véus dispersos,

Era o próprio Narciso, inconformado com o narcisismo do mundo.

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