O MEU PEDACINHO DE OURO(poema 900)

A ti, doce amiga, doce borboletita

O MEU PEDACINHO DE OURO

(poema 900)

Hoje vou-vos contar

Um segredo pouco secreto de interioridade:

É que guardo

Na minha arquinha de afectos

Uma mescla de anjo

Borboleta

De amor e amizade

Tenho

O meu pedacinho de ouro

Que quando abro a tal arca

Que é uma arca de sentires

E de recordações

Ele sai de lá

E voa à minha volta

Mas também

Em todas as direcções

Veio do meu espaço

Exterior

Das minas sagradas

De Ali-baba

Mas não tem ladrões

Ele é feito

Da essência

Das estrelas

E daquilo que Deus dá

A quem sabe ser amigo

A quem ferido

Se oferece

Como porto de abrigo

Do tamanho de um punho fechado

Que se abre

Quando se olha para ele

Na volúpia de uma beleza

Que só se tem

Quando se é adorado

E antes de dormir

Tenho o hábito

De o inundar de beijos

Para que a sua noite

Tenha a doçura

De um lindo e prometedor porvir

E a sua cor

Por estranho que pareça

Não é de ouro

Doirado

Tem as cores do arco-íris

E todas as demais

Que o Criador

Se esqueceu de acrescentar

Tem o brilho de mil sois

Que me está sempre a encantar

E outra coisa estranha…

Ele fala, hó se fala

Com as vozes de mil anjos

De infinitas borboletas

Da grande mãe natureza

Da sua boca escondida

Do seu rosto multicor sardento

Saem palavras

Que são o cerne

A essência

De todos os poetas

Que me dão alento

E ele faz-me companhia

Nas noites quentes

Nas noites frias

Nos dias com sol

Ou sem ele

Ele está sempre presente

Mesmo que distante

A sua presença

É imanente

Embora eu o leve

Sempre comigo

Nas minhas viagens

Quer físicas quer mentais

Há um pedaço da minha memória

De onde ele nunca sai,

Jamais

Porque o amo

O estimo

Com toda a minha ternura

Ele é suave amiga

Que em mim

Sempre

Mas sempre

Perdura

Apesar de tudo

De todo o seu valor

Eu não o guardo

Para não mo roubarem

Eu tenho-o junto dos meus mundos

Oníricos

Adorados

Que fazem do que sou

Que sou eu

Tal como ele

Já faz parte de mim

Porque há

Certos sentires assim

E esse meu Cosmos privado que lhe faz companhia

E ele a eles

Enriquecem-se

Mutuamente

E todos vivem em alegria

Pois nessa caixa

Há certas alturas

Em que dele exalam um milhão de perfumes

Saem incontáveis pétalas

De pura ternura

Que vão enchendo, enchendo

Até que quando abro o recipiente

Tudo pula cá para fora

Num indescritível festival

E é por isso

Que eu abro sempre que posso essa caixa

Inundando-me da mais pura magia

Desse tesouro

Enorme Rainha

Que na sua voz doce

Me diz em certas alturas

Me diz

Para ter cuidado

Para ser

Mais ajuizado

Parar olhar mais para o chão

E para as pessoas

Quando estou a andar

Pois ela sabe

Que eu ando

Sempre algures

Sempre a tropeçar

Quase sempre com a cabeça no ar

Por isso

Apesar

De ter infinitas coisas

Que me alegrem

Que fazem de mim um homem rico

Não troco toda a riqueza do mundo

Por esse pedacinho de ouro

Ele encerra

Todo o amor

Toda a amizade

Todas as coisas sublimes

Do grande Universo

É a coisa mais bela

A que se possa dedicar um verso

Forma mais linda

De dedicar algo a alguém

E foi por isso

Que eu hoje

Neste dia especial

Tinha que lhe dedicar

Este poema

Para lhe mostrar

Que posso ter muita coisa

Mas como Ela

Não tenho

E duvide que venha a ter

Algo de tão sublime

Algo tão bela

Algo tal

Que me faz

Puxar pelos neurónios

Sentimento

E muita emoção

Dedicar-lhe estas importantes linhas

Lhe dar um beijinho no ar

Na direcção

Onde ela possa estar

E dizer-lhe

Mais uma vez

Como se fosse a primeira

Que gosto dela

Sempre gostarei

E enorme amiga

Peço-te

Não saias nunca da minha beira

Pois histórias lindas

E coisas divinas

Já te contei

Já te demonstrei

Mas abro cada vez mais a arca

Para mais te narrar

Admirando

O teu voo sereno

Pois onde tu estás

É onde eu gostava de estar

Pois onde caminhares

Eu caminharei

Mas sem ser à tua frente

Para não te atrapalhar

Juntos

Mesmo que distantes

Trilharemos

A estrada que leva ao infinito

Pois é o lugar

Onde ambos gostamos de estar

E por isso nunca estás

Ou estarás só

Pois eu estarei sempre presente

Basta pensares em mim

Ou vires

Uma estrela cadente

E pedir com um certo jeitinho

Gostava

Que ele me desse

Ou desejasse um carinho

E eu virei

Cavalgando mil batalhas perdidas

Mil luas

Do outro lado do nada

Virei e far-te-ei companhia

Minha querida amiga

Minha adorada

Minha oração

Que de forma sagrada oro

Eu homem sem fé te estimo

Meu pedacinho de ouro