Arame Farpado…
Assobiam tempestades
De epilogo desconhecido
Mas não me sinto só
Pois sei que te tenho a meu lado
Os punhos cerram-se
O olhar crispa-se
Estamos bem no meio de
Arame Farpado…
Queremos ir buscar os nossos filhos à creche
Mas somos impedidos de tal
Porque entre nós e eles
Alguém colocou algumas minas terrestres…
A liberdade mede-se pela distância
Entre o nosso mundo e o deserto
Povos iguais a nós
Que sofrem e morrem sem que ninguém os ouça
Ninguém vá em seu socorro
E deles sinto-me tão desesperadamente longe
E ao mesmo tempo tão saudavelmente perto…
Digo-te para teres fé
Alimento o teu desespero
Com sonhos de uma revolução
Eternamente adiada
Por uma sociedade
Que poderia ver nela
A sua salvação
Mas que recusa tal
Por ter um medo terrível
Dessa palavra
Que de forma dicotómica
É pesadelo para uns poucos
E para a maioria
Uma bênção…
E assim temos a mente ferida
Por esse metal afiado
Temos a carne dilacerada
Porque alguém levou tal de forma literal
E colocou nas nossas ruas
O espelho visível da divisão
À qual me sinto condenado
E eu não consigo sequer ir ao mercado
Porque tudo está coberto por
Arame Farpado…