UM CERTO OLHAR

Àqueles e àquelas que me amam ou hão-de amar, poema inspirado na bela obra de uma certa borboleta

UM CERTO OLHAR

Gestos que se trocam

Em suave comunhão

Trejeitos que perdoam a dor

Que vos causo

Ou causei

Numa dada ocasião

Um forma de ver

Muitas outras de sentir

Eu sei bem

Para onde vou

Mas ao mesmo tempo

Não sei

Se quero ir

Janela

Aberta durante a noite

Às estrelas

E ao vento celestial

E também aberta de dia

A borboletas

Ou a pétalas de flor

Que me queiram

Dizer

Que apesar de tudo

Delas

Me consideram um igual

Memórias

Passadas

Ou que um dia

O hão de ser

Trocas de dores

E uma enorme

E renovada sede

Pelo saber

Saber

Que estou aqui

Que vos estimo

Que vos amo

Apesar

De por várias vezes

Vos poder invadir

Um certo espanto

Pelas coisas que faço

Ou que digo

E que parecem

Uma contradição

Entre o que sonho ser

No meio dos erros

De quem está a aprender

A caminhar

A dar

Os primeiros passos

Na vossa direcção

Embora

Esteja no meio

Desse grupo

Que me dá tudo, e o que me falta

Uma certa coragem

A que chamam amigos

Ou apenas humanidade

Eu estou no meio

Do vosso rio

Embora

Sinta que estou à margem

Porque o sol

Até se pode por a poente

Estando eu do outro lado

De tudo

Onde não o possa observar

A minha bússola não funciona

Por vezes com o vosso magnetismo

E isso

É algo

Que me pode matar

Abro pois

Mais uma vez

O meu livro branco

De regras

E desejo

Como agir

Entre parágrafos imensos de nada

Que me obrigam

A escrever

Aquilo

Que não quero ver

Aquilo

De que procuro fugir

A certa altura

Angustiado

Fui ao um médico

Que me tirou

E deu atenção

Disse-me que respirava saúde

Mas que precisava

De ter

E de dar aos outros

E outras mais carinhos permanentes

E não apenas os de ocasião

Porque o que me apoquenta

É andar sempre

Com a cabeça no ar

E sentimentos no chão

Porque eu posso gostar

Mas nunca ninguém

Foi correspondido

Por amar a imensidão

E a cada novo despertar

Tento

Furar

A crisálida onde estou fechado

Sem saber

Se vou sair dela borboleta

Ou apenas

Mais um poeta

A que ninguém liga

Esse sua sede

De esteta

E por isso

Rio…

E choro

Tantas vezes sozinho

Como uma criança

Que tem medo do escuro

Mas o meu escuro

É o receio

Que não estejam comigo

Quando o que queria mais

É que os meus suspiros

De fragilidade

Sensitiva

E inventiva

Pudessem ouvir

Pudessem escutar

E responder

Nem que fosse

Com um distante acenar

Eu estou onde estive sempre

Aqui

E em qualquer outro lugar

Desejando apenas

Em relação a mim

Um certo olhar