Coração
No meio da noite
o vento e a chuva me acordaram...
Estavam na janela
que deixei aberta ao dormir.
Aquela chuva fria, fina,
o vento doce e cantor.
Vieram me trazer algo
por isso tanta pressa.
A chuva queria ficar lá fora
receando molhar meu corpo
quente sob o cobertor...
O vento no entanto
controlou sua inquietude
transformou-se em brisa leve
e o meu quarto invadiu...
Balançou os meus lençóis
acariciou meu rosto
falou em meu ouvido.
Me disse que na noite passada
entrou em seu quarto
frio e sombrio.
Você sentia frio...
Acordou
assustou
levantou
e fechou a janela.
Tarde já era
pôs-se a chorar
chorar de saudade
da nossa amizade
que aquecia teu coração.
Chorar de tristeza
aperto no peito
nó na garganta
um soluço.
uma lágrima.
um sintoma terrível
a solidão.
Cada palavra do vento,
um corte no peito
um vasto desejo
de de ti me aproximar...
Era um choro por dentro
angústia, desalento
vontade de te encontrar.
A chuva apressada
esperando lá fora
queria ir embora
molhar outro lugar.
Gritava pelo vento
que dizia amigo do tempo
que queria me ajudar.
Sem despedida.
Saíram sem nada falar.
Deixaram lágrimas em meus olhos,
um rasgo no peito
ferido o coração.
Levou meu sono
levou meu sossego
deixou comigo a solidão.
Perguntei pro tempo
se mesmo era o vento
conhecido, amigo ou irmão.
O tempo calou
o tempo parou.
Parou pra que eu visse
que entre os dois
não existe distinção.
Cada um tem um papel
uma obra a cumprir
em cada coração.
O vento que traz
é o mesmo que leva
amizade, amor ou ilusão.
O tempo é remédio
é cura
é solução
para amizades distantes
amores proibidos
feridas no coração.
A chuva é consolo
é lágrima que cai
é grito que desprende
da alma amordaçada
trancada pela saudade...
Saudade de quem soube
entrar num universo
onde poucos pisam
onde poucos vão.
Lugar onde o vento não sopra
Lugar onde a chuva não cai
mas o tempo prevalece:
O Coração.