SARAU NO INFERNO

SARAU NO INFERNO

Jorge Linhaça

Com amigos vou até o inferno

e o demo que nos ature

pode ser verão ou inverno

mas que a amizade perdure

pois amigo é ser eterno

que não há quem misture

Se um dia tiver que ir lá

pode crer que vira um sarau

de amigos sinceros leais

recatados ou cara de pau

que vão ali para poetar

mas que não fazem o mal.

Como Dante ao inferno foi

em busca de sua amada

não vamos deixar pra depois

o encontro de gente animada

nem que seja feijão com arroz

a poesia ali declamada

o que vale mesmo é poetar

e deixar o demo alucinado

sem poder nos aprisionar

nesse lugar amaldiçoado

ele há de gritar e berrar

contra o amor ali poetado

até as chamas ardentes

hão de servir de inspiração

aos amigos ali presentes

que fazem da real emoção

em seus versos impertinetes

da amizade a maior canção.

E na hora de ir embora

não fica ninguém pra trás

onde a amizade vigora

o coração se compraz

sem ter lugar ou hora

e a alma se satisfaz

e o demo já aliviado

há de muito se alegrar

quando o poeta resgatado

com os amigos se mandar

é melhor perder um penado

do que os poetas aturar.

pois poetas são alegria

com inferno não combinam

e o lugar de agonia

eles logo iluminam

com a luz de sua poesia

e as trevas exterminam.

poetas e amigos são anjos

que voam em revoada

aos acordes de banjos

ou de harpas tocadas

em seus lindos arranjos

de almas bem aventuradas.

e este cordel eu termino

à caminho do paraiso

e amizade eu bendigo

e assim me realizo

pois posso até ser mendigo

mas a riqueza são os amigos