Roseira das Palavras

Palavras, dejectos mortos de uma sociedade atroz

Que nos inunda de nadas e de mágoas

Ao invés de banhar a humanidade de amor

Como consolação das penas do dia-a-dia

Demonstração de sensibilidade e afecto

Pedaços sólidos e calorosos de paixão

Que se transformam em cinzas nas mãos de pedintes

Implorando pela sorte que não batalharam

Semeando tempestades em impérios brandos

Polvilhados de neve como suspiros de paz

Palavras, emoções perdidas e rendidas

Na sensação inodora de odores celestiais

Que suplicam ajuda ao quem a nega

Mascarando sentimentos que pulsam

Ou que de reprimidos se esfumam

Em almas sedentas de conforto

Peregrinas incessantes de sonhos

Banidos a duras experiências

Sangrentos de feridas

Mas vivos de ideais

Nas mãos da criança que afaga a boneca

Que em suplica pede o brinquedo

Com o qual deseja brincar

Ilusões fantasiosas de Vida

Palavras, aspirações vãs de um tempo

Em que a poesia era alento

De um coração apaixonado pela magia

No qual em cada entardecer compunha

A mais bela melodia

Envolta no doce perfume

Que afagava a mais sublime ternura

Acalentadora da doçura que mora por fim

Num retrato junto de mim

Que o tempo descolora mas não apaga

Um espaço sem fim

Abençoando ou amaldiçoado pela imensidão

Impossibilidade de um destino

Inconformismo de uma mentalidade

Perdida no irreal

Palavras, suave tentação demolidora

Que eu continuo a utilizar por paixão

Bidimensional e surreal

Demente e loucamente tortuosa

Como pedaços de fécula harmoniosa

Que eu recebo nos meus lábios

Em cada momento de imaculada rejeição

Amarga e sem sabor

Deixada nos braços do tempo

Abraçada ao vento

E assim sempre solta e esvoaçante

Liberta de tudo e de todos

Palavras, de ostracismo ou delicadeza

Breves e absorventes recordações

Eternas fotografias da mente

Escritas ao sabor de raios de sol

Correrias pela praia

Banhos de mar e de lua

Que o corpo recebe como bálsamo

Da divina natureza

Anjo doce que me guarda

Ou da sombria clemência

De um demónio que se afasta

Palavras, um veneno que extravasa

Por cada poro da pele

E que como perfume se alastra

Por todos aqueles que toca

Deixando apenas a marca

Do meu baton do rosto

O beijo que dou a todos aqueles

Que abraçam as palavras

Com igual ternura

Palavras....

Sonya
Enviado por Sonya em 10/10/2006
Reeditado em 29/07/2008
Código do texto: T260956
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