A casa de Mateus

Um mesmo bairro abriga

a casa de Mateus e

a casa de Irene

nos confins da Santa Fé.

No entra e sai e mistérios,

para os vizinhos,

são parecidas

as cassa de Mateus e Irene.

Aqueles que entram

na casa de Mateus

surpreendem orgia

de estranhas borboletas no amontoado

de louça insone na cozinha

de cujas paredes escorrem

tulipas encarnadas.

Mateus tem cara

de cachorro vadio,

os olhos de cabra,

como os de Irene

no garimpo de pérolas,

de botões a desabrochar.

Olhos de gato de rua,

de bode indiano

tem Mateus.

A propósito,

nunca o vi de “bode”

ou de “ovo” virado.

Alguns chiliques apenas e

a grandiloqüência do verbo

ser e fazer sempre no futuro

sem presente, sem passagem

no passado que é passado,

morto e enterrado.

Lá vai Mateus dobrando a esquina,

como um mágico do tempo

numa eterna viagem sem destino.

- E Irene?

Irene é uma formosa dama

de cara e casa limpa,

esburnida por amores ao acaso,

e aqueles por premeditação ou

necessidade comprados.

A casa de Mateus tem pó,

poeira, fuligem e fumaça.

Teias de aranha

como acácias choronas,

pendem do teto e paredes

feito cachos de lágrimas.

Muitos cachimbos da paz

muitas BRs percorridas

fizeram a casa de Mateus.

- E a casa de Irene?

Só indo lá depois

de perder-se no labirinto

de sensações e encontros

no ninho humano,

mafuá de trevas e luz..

É assim a casa de Mateus.