AMOR DE PAI

 

Sentado na cadeira de balanço

Esquálidas feições se embaraçam no tempo.

Prata no cabelo, ouro no coração,

As mãos já calmas só servem as bênçãos.

Sentado na cadeira de balanço

Seu rosto se repõe no passado,

Enquanto o olhar perdido se encontra

No afeto dos filhos – estribilho

Que a vida oferta pela porta aberta do coração.

Passos lentos, lá vai ele contando os dias

Mas que dias está querendo contar?

Certamente contando sonhos

Que na mocidade não quis sonhar.

Certamente contando cédulas de afeto

Para o neto que vai chegar!

Certamente contando estrelas

Pedindo-lhes pra lhe esperar!

Sentado na cadeira de balanço

Diverte-se olhando as nuvens

Como se da vida não sobrasse ranço:

Cantarola, solfeja um verso baixinho e

Seus desertos se consolam

No escopo dos seus carinhos.

Barba feita todo dia,

O rosto sulcado se refaz

Até que o dia seja noite

E encante o amor do pai.