MULTIDÃO DE AMIGOS

Tinha mil amigos

e não tinha nenhum

ou alguns, apenas

mas não reconhecia

Vivia com seu rol

entre festas e diálogos

jogando golfe e xadrez

jogando pife e buraco

via muitos sorrisos

mas não via que eram quadrados

Por motivos de força maior

média ou menor

seja lá como for

não importa o tamanho

e sim a necessidade

teve que se afastar

da grande cidade

Aos poucos sentiu

o que era a realidade

dos mil que existiam

em menos de dez dias

não ficaram nem metade

e, desses

quase um tanto

eram cobranças e ameaças

Depois de mais um tempo

sem pagamento ou promessas

viu que a remessa

agora era menos de cem

Sempre foi tão amigo

aberto ao convívio

para ficar assim

sem abraços

sem sorrisos

sem recados

sem visitas

sem encontros

só o jogo da vida

para jogar uma partida

e sair como entrou

Já não pediam explicação

não diziam sentir saudades

ricos e pobres

de qualquer idade

nem um oi

nem um 'como vai?'

e por mais que sinta

não pode somar

mais que trinta

Mas o tempo

é o dono da verdade

nem tanto tempo passou

o mundo girou

alguns seguindo seu caminho

alguns segundos

e cada vez mais sozinho

agora, de todos

aos quais dispensava carinho

não passavam de quinze

Assim foi passando

pensando nos sentimentos

quando descobriu

entre cartas

telegramas e telefonemas

os amigos que partilhavam sua mesa

nesse momento

eram uma dezena, apenas

Mas para ter certeza

da verdadeira amizade

daqueles em quem poderia confiar

daqueles que os sorrisos não eram máscaras

daqueles que não fingiam tristeza

só para vê-lo feliz

daqueles com quem poderia compartilhar a vida

passou fora mais um mês

e viu que, afinal,

os amigos eram só três

Janete do Carmo
Enviado por Janete do Carmo em 30/05/2010
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