Um dia de rua nas vidas de Buran e Chicó.

Buran e Chicó eram dois cachorros

que viviam pelas ruas e morros

do lugar em que "moravam".

Buran era bem grande e fanfarrão.

Era da raça Pastor Alemão,

mas muitas pessoas duvidavam.

Já Chicó, era pequeno

Feito de pelúcia e bem sereno

Pela cidade se deixava levar.

Carregado pela boca do amigo

o que ele achava muitas vezes um castigo

de tanta baba se lambuzar.

Apesar da diferença de seres.

Os dois tinham seus quereres

E opiniões caninas diversas.

E na praça da cidade pacata

que se fazia por sala exata,

os dois tinhas suas conversas dispersas.

- Buran! Olhá só!

- O que foi, Chicó ?

- Olha só aquela cachorrinha!

- Aquela poodle alí sem graça

que todo dia vem aqui na praça

com sua dona de manhãzinha?

- Se é a mesma Buran, eu não sei,

mas ela está bem diferente

do que costumo ver.

- Ah Chicó, se manca!

Ela só está mais branca

dos banhos de xampús que ela deve ter.

- Falando em banho Buran, não fique zangado,

mas você está cheirando a pano de chão molhado

E este seu bafo eu já não aguento.

- E você se acha que é um vidro de perfume?

Tem amigos meus que acham que tô comendo estrume

carregando você , ô seu lazarento.

- Buran, porque você não a namora?

- Tá doido, Chicó?! Sai fora!

- Olha o meu tamanho e olha o dela?

- Porque não vai você com sua astúcia?

Vai ver que ela gosta de bichinhos de pelúcia.

E além do mais, pra mim ela é magrela.

- Ah, Buran isto não tem nada a ver.

Ela ainda pode quem sabe... crescer!

E por favor veja se não mais me apela.

Já que você não quer, deixe-a pra mim.

Quem sabe não é ela que fique a fim

de me levar ao seu ladinho à passear?

Porque da sua boca já estou cheio.

Já estou com as orelhas cortadas pelo meio

de tanto você me mastigar.

- Tá nervoso, Chicó? Só porque viu a cachorrinha?

Tá querendo dar uma de que? De mariquinha?

Satisfeito comigo ou não, me aguente.

Se não fosse eu você estaria jogado

lá naquele armário todo quebrado

do pessoal do buraco quente.

- Buran, sabe que às vezes eu te estranho?

Como pode você ser um cão deste tamanho

e falar tantas abobrinhas?

A rapaziada lá do buraco quente tem falado

que você parece um cachorro "mal afamado"

por nunca ter dado um pega numa cadelinha.

- Eu...eu...eu...tenho que dar satisfações do que eu faço?!

Cada cachorro aqui faz xixi no seu pedaço.

E dou meus pegas sim se você quer saber.

- Eu somente sei ser um cão discreto.

- Ahan...igual ao cachorro do Beto

lá do salão da rua Renascer?

- Tá insinuando alguma coisa, Chicó?

- Não, Buran que isso! Eu só fico com dó

que você ainda não tem umas companheiras.

-Tanta cachorra por aí à solta, meu amigo

e você fica andando pra baixo e pra cima comigo,

e o pessoal anda falando besteiras.

- Não me importo. Ando às escondidas

pela noite pra namorar umas cachorras perdidas

que chegam do bairro vizinho.

Umas daqui eu até ja peguei,

mas por favor não comente nada, pois como te falei

sou discreto...caladinho.

- Ahhhh... isto explica o fato

de eu ter acordado do lado de um rato

e outros lugares que nunca estive.

- Eram estas noites que você saía então?

Ah, Buran, seu safado! Ah, seu cachorrão!

E eu querendo dar uma de detetive.

- Desculpas, Chicó te largar assim em certos lugares

que geralmente eram escondidos em portas de bares,

mas é lá que a cachorrada aparece.

- Deixa de ser besta, meu amigo. Claro que entendo.

Atrasar você é que não pretendo.

pois sei que apesar de tudo, você não me esquece.

- Imagine, Chicó se um dia eu te esquecesse?

- Nem me fale Buran. Seria como se eu morresse.

Já basta o armário que você me achou.

- Falando nisto,Chicó. Você foi jogado fora?

- Acho que sim, sei lá. Passei da hora.

Mas é melhor viver assim da forma que estou.

Com um amigo que me carrega.

que sai correndo quando gritam: Pega!!

Quer mais emoção?

- Realmente Chicó a rua me fascina.

Quer expressão de liberade mais canina

de tentar sobreviver como um cão?

Tem pessoas que me deixam contente.

Uns nos dão comida e água. Outros batem na gente.

E assim vamos vivendo, vivendo, vivendo.

- Não sei se gostaria de ser um cão de verdade.

Sabe Buran. Meu mundo era outra realidade,

mas também não sei se agora estou sofrendo.

Mas lá eu tinha caminha quente.

Sempre estava nos braços de alguma gente

e sem contar que eu era o "xodó" da casa inteira.

- Mas agora Chicó, você está aqui comigo.

Passando alguns apertos, meu amigo.

Tente ver isto agora de outra maneira.

- Já estou acostumado. Não se preocupe. Na boa.

Gosto desta nova vida de viver à toa.

Ainda mais com você me protegendo.

- Agradeço sua palavras, Chicó.

Depois que te conheci, não me sinto mais só.

E coisas também contigo vou aprendendo.

- Que tipo de coisas você aprende Buran, posso saber?

- Coisas do tipo, amizade, Chicó. Coisas que devemos ter

para qualquer lado que andemos nesta vida.

Não importa muita coisa se temos alguém

que está ali do nosso lado nos fazendo bem

em qualquer situação, mesmo que achemos ela sofrida.

- Amizade é tudo mesmo , Buran. Concordo.

E todos os dias quando eu "acordo"

Sabia que quando te vejo eu fico feliz?

- Também fico vendo você. Somos diferentes eu sei.

Mas de todos os cachorros, você foi o melhor que eu encontrei.

Tenho certeza que o destino assim o quiz.

- A conversa tá boa, amigo, mas vamos embora?

- Mas e a cachorrinha? Não quer tentar nada agora?

te deixo perto dela se você quiser.

- Buran, vamos ser francos:

Ela já deve ter lá o seu cachorrinho de pelos brancos.

E além do mais tenho certeza de que ela não me quer.

Quero ir pra casa e você deve estar cheio de fome.

Coisa esta que em mim não me consome.

e amanhã, amigo é outro dia.

- Tá certo então. Neste ponto você tem razão.

Vou ver se consigo comer um pedaço de pão

Que sempre cai um pedaço naquela padaria.

E assim Buran e Chicó passam as horas

Conversando o dia inteiro sem demoras

Da costumaz vida: VIDA DE CÂO.

Amanhã será outro dia quem sabe?

E torço para que amizade deles nunca se acabe

E que a cada dia eles nos ensinem uma lição.

Geraldo Lys.

Geraldo Lys
Enviado por Geraldo Lys em 03/03/2010
Reeditado em 03/03/2010
Código do texto: T2118460