Presente Noturno

Acordei de madrugada sufocado de calor.

Fui para a janela do quarto apreciar a noite e seu ardor.

A visão era: a varanda e a frente do quintal,

Iluminada por um único poste, de forma artesanal.

Uma goiabeira e uma jabuticabeira de cada lado,

À direita, uma palmeira imperial, menina ainda,

Em sua nobreza infinda,

Com seu crescimento desacelerado.

A cena foi animada pelo trânsito tranquilo dos gatos,

Em seus passos delicados.

De repente, um bater de asas nunca visto:

Esquisito,

Assustador,

Aterrador...

Pousou em um galho pelado da jabuticabeira,

Era uma coruja grande,

Com sua postura elegante,

Que, a mim se apresentava, pela vez primeira.

A uma distância segura, uma gatinha ainda filhote

Parou no meio do quintal, estarrecida...

Com aquela estranha visita,

Como quem analisa: será prenúncio de sorte?

Ficaram se entreolhando.

Minuciosamente se olhando.

A gatinha imobilizada,

A coruja, já mais relaxada.

Virava o pescoço analisando o ambiente,

Com a segurança

De quem sabe todos os passos de sua dança.

Pairava um silêncio eloquente.

Num movimento escandaloso,

Abriu as asas levantando vôo,

Causando-me um arrepio,

Oriundo do meu mais profundo vazio...

Pensei que ela iria atacar a gatinha, de alguma forma,

Por ela ter mergulhado em sua direção.

Parou meu coração.

Pensei em saltar a janela sem demora...

Como se isso fosse resolver,

O que, parecia, estava por acontecer.

Mas ela passou perto e desviou

Circulou e no mesmo galho pousou.

Volto a frisar a estranheza,

Quase aspereza,

Do formato de suas asas abertas voando:

Um sinistro encanto.

Não sei o tempo que nós três passamos ali.

Perguntei-me o que ela estaria fazendo aqui?

Qual a mensagem

Dessa magnífica paisagem?

A compreensão caiu sobre mim,

Com a clareza de uma história que chega ao fim:

De forma bem clara,

Diante daquela beleza selvagem e rara.

Meu espírito estava vestido da liberdade do condor.

Pronto para me libertar

E voar.

Mas, ainda não me livrei de toda dor.

Preciso antes, vesti-lo com a sabedoria da coruja:

Terminar de lapidar a conduta,

Para acontecer o alinhamento,

Que elevará todos os meus sentimentos.

Preciso me desapegar de Paraty,

Antes de partir,

Para me vestir de Bahia,

Para sintonizar a nova sintonia.

Após a “brilhante” conclusão,

Dediquei-me, exclusivamente à contemplação.

Antes de ir embora, a coruja circulou de novo o quintal,

Despedindo-se de nós, de forma magistral.

Dedico esse texto a meu amigo irmão parceiro musical Teddy!

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 28/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
Código do texto: T2055549