Cenário Teatral
Noite chuvosa.
Abro a janela, explode a visão
Da calma em sua precisão.
Sou tomado por uma inspiração furiosa.
Sobre a madeira da varanda,
A placidez tamanha...
Em formação triangular,
Três gatos a me olhar.
A luz da varanda apagada,
A quadra por um único poste iluminada.
As copas das goiabeiras,
Com seus desenhos sombrios.
O ar um pouco frio.
Ainda bem que em casa não há goteiras...
Só a parte da frente do quintal,
Sob a luz da rua.
O céu sem lua!
Tudo tão cenograficamente teatral...
Uma plasticidade!
A simplicidade,
O bom gosto do desenhista,
A mensagem subscrita,
A perfeição circunscrita...
A sensibilidade irrompendo em conquista!
A orquestra de rãs, com sua sinfonia,
O sino dos ventos com sua coreografia,
O som da chuva hipnotizante...
A harmonia navegante!
Tudo cheirando a molhado.
Eu, quase, embasbacado...
As poças d’água,
O regalo da alma.
Nem sei...
Só sei que transbordei...
Desvencilhei-me do tempo.
Queria olhar por dentro,
Do que estava à minha frente.
Mergulhei impunemente.
Despi-me até o centro.
Desejava o âmago do ensejo,
Para tentar apreender,
O que estava a perceber:
As mais antigas respostas
Que se abrigam no intervalo das horas,
Nas dobras,
Nas sombras das sobras.
Lembrei-me imediatamente,
Claramente,
Da sensibilidade da obra da escritora e amiga
Juli Lima!